O curitibano Kadu Rauth Hidalgo, mais conhecido como Kadum, vem se destacando por trazer um som autêntico e com muita personalidade em suas apresentações.
Sendo multi-instrumentista, Kadum leva uma experiência única ao público, fazendo uma junção do som dos instrumentos com o visual do DJ que os toca.
Conheça agora um pouco mais da carreira, inspirações e planos do DJ Kadum!
“Nada substitui o sentimento transmitido por um instrumento musical tocado ao vivo, é como se a música fosse uma extensão do meu corpo e mente.” – Kadum.
Como surgiu e como você explica o projeto Kadum?
O projeto Kadum surgiu de uma grande paixão que sempre tive pela música. Após frequentar minha primeira rave em 2007, consegui sentir a vibe da pista e então decidi que queria produzir meus próprios sons.
Surgiu como uma forma de expressão artística, a minha ótica a respeito da cultura do Psytrance. É onde posso aplicar todo meu conhecimento, as minhas influências e misturar tudo, livre de rótulos.
Por se tratar de um projeto solo, não há barreiras, posso explorar toda a minha criatividade, serve como um belo exercício para a mente. Quando estou produzindo me transporto para outro lugar.
Qual foi a apresentação que mais marcou sua carreira?
Uma pergunta difícil, foram várias que marcaram. Mas uma que abriu muitas portas foi o Terra em Transe (BA), na virada de 2014. Foi a primeira vez que toquei no Nordeste, e além de tocar para uma pista linda e num soundsystem monstruoso, fiz várias conexões com a galera da Celebratiohm (RJ).
Eles me convidaram para tocar lá logo na sequência, pela primeira vez no RJ, e lá no evento conheci a galera da Boikot de Recife, que também me convidou para a minha primeira apresentação em Pernambuco. Ou seja, muitas portas começaram a se abrir desde então.
Como produtor, quais são suas maiores inspirações para criar novas músicas?
Tudo que vivenciamos no dia a dia serve como inspiração. A inspiração está nos mínimos detalhes. Uma paisagem, um momento, uma pessoa, uma frase, um pensamento, uma reflexão, tudo pode funcionar como aquela fagulha inicial necessária para acender a “fogueira”.
Basta canalizar esse vórtex de informações e deixar fluir. Também acho importante ter a cabeça aberta e ouvir variados estilos musicais, além das diversas vertentes do eletrônico. Para assim conseguir explorar outros universos e trazer novas influências, romper a barreira dos rótulos e buscar uma identidade única.
Sendo multi-instrumentista, no que isso se diferencia nas suas apresentações?
Acho interessante trazer elementos orgânicos para dentro da música eletrônica. Ainda mais nas apresentações ao vivo. A interação com o público e com o próprio som é muito maior. Nada substitui o sentimento transmitido por um instrumento musical tocado ao vivo, é como se a música fosse uma extensão do meu corpo e mente. Além de chamar a atenção de quem está assistindo, por explorar e aguçar os sentidos da visão e audição, ou seja, a pessoa vê e escuta na mesma hora. Trazer diferentes instrumentos para a apresentação deixa ela muito mais versátil, e traz também uma riqueza maior de timbres.
Gosto de tocar a flauta transversal com um toque de reverb e delay para deixá-la bem espacial. Saxofone, Didgeridoo, Hang Drum e também uns apitos indígenas, que combinados com os efeitos ficam parecendo synths orgânicos.
“A música é feita para ser compartilhada, senão não teria a mesma graça.” – Kadum.
Como é sua relação com seus fãs?
Sempre fui muito atencioso com os fãs, tenho grande consideração, vejo a galera mais como amigos mesmo! No final das contas está todo mundo no mesmo barco. Máximo respeito pela galera que às vezes viaja vários km só pra me ouvir, isso não tem preço. Faço minha música de coração aberto pra vocês. Se estou nessa até hoje, é pelo incentivo de todos. A música é feita pra ser compartilhada, senão não teria a mesma graça. Muito massa ver geral dançando e se divertindo com o que passei horas e horas dedicado no estúdio produzindo.
Já teve uma história “louca” em alguma gig?
História louca é o que mais tenho, poderia escrever um livro só disso! Hahaha… mas vou escolher uma.
Tinha acabado de tocar na Synthetic Moon em Curitiba-PR, e precisava viajar pra tocar na Samadhi em Criciúma-SC, mas havia chovido a noite inteira, e o rio que passava ao lado transbordou – estava cruzando a única estrada que dava acesso à chácara. O carro estava me esperando do outro lado, e eu não podia perder a hora. Resumindo a história, tive que atravessar o rio com água até o peito e correnteza, com os equipamentos, mochila, o case do saxofone em cima da cabeça. Com ajuda do organizador do evento Maka, ponta firme total, realizamos essa travessia para que não perdesse a outra apresentação.
Ao chegar lá, achei que a festa estaria fraca de público por conta da chuva torrencial, mas fui surpreendido. Na hora que subi no palco pra tocar, tinham umas 4 mil pessoas dançando debaixo da chuva na madruga. Foi lindo de ver!
Como foi a experiência de tocar em um festival tão almejado como o Universo Paralello?
O Universo Paralello era um grande sonho antigo. Desde 2009 assistia aos vídeos e me imaginava tocando lá. Porém nunca tive pressa, não fui atrás de enviar material nem nada. Sabia que a hora ia chegar, passei por um grande aprendizado e amadurecimento, tanto pessoal, quanto profissional.
Meu som evoluiu muito nesses mais de 13 anos de produção, e na hora certa pintou o convite do amigo Shove, em cima do palco do Adhana. Tudo de maneira natural, nada forçado. E fui com aquela certa valorização que os artistas merecem. Fiquei muito feliz com o convite e tirei a melhor experiência que poderia dessa ocasião. Quero muito voltar nos próximos, espero que me chamem novamente.
Tive a honra de tocar no primeiro pôr do sol de 2020, para uma pista linda na areia da praia. Pra mim, posso considerar que zerei a vida. O que rolasse depois do UP era lucro.
Qual foi a sensação quando iniciou sua primeira turnê internacional?
Minha primeira turnê internacional foi em Austin, no Texas em 2015, foi uma grande realização. Aconteceu logo após o primeiro lançamento do meu EP pela Kinematic Records, da Austrália. Sou muito grato ao Phillip, que era o artista gráfico da label e viabilizou isso. Foram pelo menos uns 8 meses de planejamento, para tirar documentação e visto. E quando chegou a hora, foi um momento de muita reflexão sobre todos os acontecimentos, e um sentimento de gratidão que transbordava. Aproveitei cada segundo, foram 15 dias intensos que levo na memória e na bagagem pra sempre.
E agora estou aguardando novos convites para organizar possíveis tours, sonho em conhecer os países da Europa, e também Austrália, Índia, México, quero levar minha música pra todos os cantos do mundo!
A pandemia foi um momento muito difícil para toda a cena, como você passou esse momento?
A pandemia pegou todos nós de surpresa. Era tudo muito incerto, ninguém sabia quanto tempo iria durar. Minha renda era única e exclusivamente através dos cachês das apresentações, tanto como DJ, quanto das bandas que toco aqui em Curitiba. Estamos todos há mais de 1 ano e meio sem eventos, sem trabalho. A situação ficou bem apertada, mas temos que ter um pouco mais de paciência, logo tudo acaba.
O lado positivo desse lockdown, é que a vida me presenteou com um filho lindão que está com 9 meses, e estou podendo acompanhar de perto desde o começo o seu desenvolvimento – se estivesse no ritmo frenético de antes, quase não parava em casa.
Também estou fazendo uns quadros com umas mandalas que desenho, como uma alternativa.
E aproveitando o tempo livre no Home Studio para produzir muitas e muitas músicas novas, para retornar com um repertório renovado pra vocês. Fica a dica pros contratantes, que agora queremos mais do que nunca tocar Long Set!
Conte-nos quais são suas expectativas e planos para o mundo pós-pandemia. Tem alguma novidade já planejada?
Se tudo der certo, em dezembro estaremos todos vacinados e imunizados, podendo retornar aos palcos da vida.
O Adhana na virada vai marcar esse retorno, irei me apresentar com o projeto KADUM antes do Tetrameth e Shadow FX (Twisted Sibling), e também encerraremos o festival no Chill Out com a Mumbai Express, minha banda de instrumental experimental psicodélico. E dali em diante espero que as coisas voltem ao normal. Acho que os eventos vão bombar ano que vem, a galera está com muitas saudades! Estou na torcida para que os eventos que eu ia tocar e que foram adiados na pandemia, aconteçam de fato ano que vem! Estamos trabalhando a todo vapor ao lado da DM7 Bookings para melhor atender a todos.
Foto de capa: Kadum. Ecotribe – 2018.