Do Paraná para o mundo: a jornada da DJ que une a moda, o som eletrizante das pistas e a representatividade na cena underground.
Clementaum, também conhecida como LA MAYOR, vem se destacando como uma artista completa, explorando a interseção entre música, moda e cultura ballroom. A DJ paranaense combina suas raízes na customização e na cena underground com sua habilidade de criar sons inovadores que capturam o coração da pista de dança. Com sua música já reverberando em palcos internacionais, Clementaum continua a redefinir a estética e o som da música eletrônica.
Representando o estado do Paraná e a vibrante comunidade underground, Clementaum é uma das principais promessas da cena eletrônica brasileira. Com sua música multifacetada, que transita entre o funk, techno e tribal, ela traz uma visão singular para o universo da produção musical, sempre conectada às suas raízes e experiências culturais. Como uma figura importante dentro da Kiki House of Harpya, ela também fortalece a representatividade LGBTQIAPN+ nas pistas, unindo moda e música em uma performance única.
Nesta entrevista exclusiva, Clementaum compartilha detalhes da sua trajetória desde a infância até os palcos do Boiler Room no Primavera Sound Barcelona. Ela fala sobre como a moda e a cena ballroom moldaram sua carreira, sua experiência marcante na turnê europeia, e suas colaborações com grandes artistas como Pabllo Vittar. Cle revela como suas múltiplas influências musicais se transformam em produções vibrantes e convida os leitores a mergulharem nesse universo inovador que a coloca como uma das DJs de DESTAQUE do Brasil.
Como foi o seu primeiro contato com a música? Houve algum momento específico na sua infância que despertou o seu interesse por esse mundo?
Minha família já tinha uma conexão com a música, desde criança eu via meu pai tocando violão e a minha irmã sempre ouvindo o rádio e assistindo clipes na MTV. Eu já sabia que queria trabalhar com arte, mas nessa época não sabia com qual forma seguir.
O que te inspirou a começar a criar e se envolver mais profundamente com a música eletrônica? Houve algum artista ou momento marcante que te influenciou?
Sem dúvidas foi o show do Skrillex no Lollapalooza 2015, eu já acompanhava o trabalho dele desde 2010 e foi a primeira vez que eu vi um show de música eletrônica e pirei naquele som, junto com isso comecei a reparar cada vez mais na técnica e performance dos DJs e a me interessar por DJs na música.
Como sua paixão pela moda influenciou sua trajetória como DJ? De que forma o estudo e a prática da customização moldaram sua presença nos palcos?
Desde adolescente eu frequentava brechós e gostava de fazer customizações e montar meus looks, então quando eu comecei na carreira de DJ foi uma transição muito natural e a moda acabou virando até parte da minha persona nos palcos. Muito dessa conexão também é por causa do meu tempo estudando moda no Ensino Médio e faculdade, o que me ajuda a produzir peças para usar nos meus shows até hoje.
Como foi seu primeiro contato com a cena ballroom e de que maneira essa cultura influenciou sua identidade musical e suas performances como uma DJ da cena underground?
Meu primeiro contato com a cena Ballroom foi através da pesquisa musical, por volta de 2017 eu estava muito interessada no vogue beat. Trocando ideia com produtores da cena, como o Evehive, eu fui conhecendo essa comunidade e busquei encontrar isso também na cidade em que eu vivia na época, Curitiba. Lá eu já tinha amigues que dançavam voguing e também estavam buscando fortalecer esse movimento em Curitiba, nos anos seguintes começamos a fazer experimentos de balls e em 2020 organizamos a primeira Kiki Ball oficial em Curitiba, que foi organizada pela minha Kiki House of Harpya, onde eu dividi os decks com a DJ Bassan, que me ajudou a entender mais profundamente as nuances das categorias dentro das Balls.
Você é intitulada como Overall Princess Harpya na comunidade ballroom. Pode nos contar um pouco mais sobre o significado desse título e como ele impacta sua carreira na música?
Um título dentro da comunidade Ballroom é uma representação das coisas que conquistamos pela a cena e também para a nossa House, então ter esse reconhecimento foi muito importante pra mim, principalmente vindo de quem me ajudou a ter mais confiança no meu CUNTZAUM.
Sua presença no Boiler Room, especialmente durante o Primavera Sound Barcelona, foi um grande destaque. Como foi essa experiência para você? Qual foi a sensação de ver seu show sendo considerado um ponto alto do festival?
Estar no Boiler Room é o sonho de qualquer DJ, principalmente da cena underground, é uma plataforma que traz muita visibilidade e o olhar de novos públicos. Fiquei muito surpresa quando a WGSN, que é uma referência em previsão de tendências, colocou meu nome como um destaque do festival, ao lado de artistas que eu admiro muito, como a Charli XCX.
Além de ser nomeada como Produtora Musical do Ano no WME Awards Powered by Billboard, você também colaborou com grandes nomes, como Pabllo Vittar. Como surgem essas colaborações e o que elas significam para você?
Às vezes as colaborações podem vir de lugares inesperados, como alguém que viu seu som no SoundCloud, curtiu e resolveu chamar pro estúdio. Colaborar com alguém, independente do tamanho ou fama, é sempre uma troca e com certeza a gente fica muito feliz de trabalhar com alguém que divide das mesmas ideias.
Sua música transita por vários estilos, como funk, techno e tribal. Como você decide quais influências incorporar nas suas produções? Há algum estilo que você ainda gostaria de explorar?
Sempre tento incorporar um pouco do que estou consumindo e admirando no momento, minha arte é muito plural, então é difícil dizer qual vai ser o próximo passo.
Este ano você realizou sua primeira turnê pela Europa, passando por importantes clubes do continente. Como foi essa experiência internacional? Quais foram os principais aprendizados dessa turnê?
Essa primeira turnê foi uma aposta na minha carreira, não foi uma decisão fácil ficar quase 3 meses fora do Brasil e muita coisa foi feita em cima da hora, acho que o principal aprendizado é que o planejamento é uma das partes mais importantes.
Com a sua trajetória cada vez mais reconhecida no Brasil e internacionalmente, quais são seus sonhos e metas a longo prazo para a sua carreira? Como você se vê contribuindo para a cena musical eletrônica nos próximos anos?
Uma grande meta é poder entregar showmentaums cada vez maiores, para muitas pessoas. Também gostaria de participar de mais festivais, tanto no Brasil quanto no mundo e espero que daqui alguns anos minha carreira esteja estável e crescendo, estamos trabalhando pra isso!
Repórter: Dih Aganetti
Edição de texto: Orly Fernandes
Foto de capa: @ogatafanny