DJ Raphael Beranger, um nome que ressoa profundamente na cena eletrônica clubber brasileira, compartilha suas primeiras memórias musicais e trajetória de sucesso. Desde a influência dos discos de seu pai até suas incursões em raves e clubes icônicos, Beranger revela como se apaixonou pela música eletrônica e construiu uma carreira sólida e versátil.
Beranger é mais que um DJ; ele é um embaixador da música eletrônica carioca, levando a essência da cena clubber do Rio para o mundo. Com uma carreira que começou nos quiosques da Praia da Reserva e evoluiu para grandes festivais como o Bunker Festival, ele se destaca por sua habilidade em navegar por diversas vertentes da House Music, como Minimal, Deep e Electro. Suas colaborações com nomes renomados e a criação de labels como Me Gusta Records e Miniclub mostram seu compromisso em promover a cultura underground e novos talentos. Através de suas apresentações e produções, Raphael contribui para um cenário musical vibrante e em constante evolução.
Nesta entrevista, Beranger aborda temas essenciais para entender sua trajetória, desde suas primeiras influências musicais e o início na discotecagem até a criação de seus projetos. Ele compartilha momentos marcantes de sua carreira, como sua estreia em raves e festivais, além de suas colaborações com artistas renomados. O DJ e empresário também oferece conselhos valiosos para aspirantes a DJs e produtores, refletindo sobre a importância da persistência e da celebração das conquistas. Para conhecer mais sobre o impacto de Beranger na cena eletrônica e seu papel no futuro da música, não perca esta entrevista de DESTAQUE exclusiva para Colors DJ Magazine.
Você poderia nos contar sobre suas primeiras memórias musicais e o que te atraiu inicialmente para a música eletrônica?
Minhas primeiras memórias com a música vêm do meu pai, um grande colecionador de vinis, principalmente de Rock e disco music. Sempre fui apaixonado por música, e tudo na minha vida sempre teve uma trilha sonora. Meu primeiro contato com música eletrônica foi através de amigos do prédio onde eu morava, especialmente um amigo chamado DJ Magri, do Rio de Janeiro e que é um grande amigo até hoje. Eu comecei a ouvir música eletrônica em 2005, principalmente Psy Trance, Full On e Progressive Trance, mas só comecei a frequentar as raves em 2007. Porém, o fato mais marcante foi quando eu fui pela primeira vez ao saudoso e renomado Fosfobox Bar Club em Copacabana, em 2009. Me apaixonei pela cena clubber e comecei a explorar mais profundamente o house, minimal e techno
Quais foram algumas de suas inspirações musicais durante a infância?
Fui influenciado por artistas como Tears For Fears, Depeche Mode, New Order, Pet Shop Boys, Kraftwerk, Dire Straits, Rita Lee, Tim Maia, Lincoln Olivetti, entre outros.
Quando você começou a discotecar e produzir música? Houve algum evento específico que te inspirou a seguir esse caminho?
Comecei a discotecar em 2012, inspirado por uma viagem que fiz em 2010 para Blumenau, onde meu amigo DJ Magri morava à época. Esta viagem que era para durar apenas uma semana, se estendeu por quase um mês, e com isso, visitamos muitos clubes e assistimos a DJs incríveis. A inauguração do Matahari Music Stage em Indaial, com a presença de Adam K, DJ e produtor que tinha vários hits lançados naquela época. Por isso, essa viagem foi um divisor de águas para mim. Já em 2016, fiz meu primeiro lançamento autoral como parte do duo Zeck & Beranger.
Pode nos contar como foi o seu primeiro show e como se sentiu ao se apresentar para uma plateia pela primeira vez?
Minha primeira apresentação foi em 2012, num quiosque na Praia da Reserva, aqui no Rio de Janeiro. Eu já conhecia alguns produtores de eventos e um deles ouviu alguns sets que eu publicava online e gostou demais da minha curadoria musical, que transitava entre o House, Deep e Tech. Então, um dia ele me convidou para fazer o warm up de uma de suas festas e eu fiquei muito feliz e muito ansioso, pois nunca tinha tocado numa festa. Eu convidei o Zeck para fazer b2b comigo e foi uma estréia bem legal. A galera vibrou muito com as músicas que selecionamos e a partir daí criamos o duo Zeck & Beranger. Foi um bom período e tocamos em grandes festas aqui do Rio, como a Peccatum que em uma das edições que tocamos dividimos os decks com Boris Brejcha e Beckers. Em outra ocasião tocamos pela primeira vez no lendário ”The Week” com um line up impecável que incluía a lenda do house no Brasil, o DJ Meme.
A Miniclub começou como uma festa em 2015 e evoluiu significativamente. Pode nos contar sobre a inspiração por trás da Miniclub e como tudo começou?
A Miniclub foi criada como festa em 2015 por Saulo Ferraro e Rod B. Após algumas edições o Rod saiu e o Saulo continuou com a marca que teve outros sócios entre 2017 e até 2020. Quando veio a pandemia tudo ficou parado por praticamente 02 anos. Em 2017 fiz o curso da Great DJs que na época era ministrado pelo Saulo e meu grande amigo Magri, para me aprimorar e pegar mais técnica. Após o curso fiquei muito amigo do Saulo. Seguimos com a amizade e tocamos em algumas festas juntos fazendo b2bs. No pós pandemia em 2022 tinha acabado de inaugurar o Madre Rio, o novo club da cidade que ficava localizado no Humaitá e nessa época eu e Saulo estávamos nos falando muito sobre projetos e trocando algumas ideias. E assim decidimos fazer uma Miniclub no Madre e convidamos o DJ paulista Oliver Gattermayr (Subdivisions) que fez um set incrível Vinyl Only. A festa foi bem legal e começamos a planejar uma próxima que seria ainda em 2022, mas acabou ficando para 2023. Foi quando trouxemos o duo alemão Pornbugs da Bondage Music de Berlim. Após dois eventos em parceria, recebemos muitos elogios sobre a proposta da festa e assim fui convidado pelo Saulo a ser sócio da marca.
O que motivou você e Saulo Ferraro a transformar a Miniclub de uma festa em um selo musical em 2023?
Após realizarmos os dois eventos juntos e eu ser convidado para ser sócio da marca, o Saulo já sabia que eu tinha outra gravadora desde 2019, a Me Gusta Records, e que eu já havia sido label manager da G-Mafia Records de São Paulo. Aí ele me falou que tinha o desejo de abrir o label da Miniclub. Então eu me animei demais, pois gosto muito da marca Miniclub, do conceito, estética musical, identidade visual e vi que seria um novo desafio para mim e estou super feliz com o desenvolvimento da gravadora que tem a proposta e objetivo de se tornar o principal selo de Minimal House/Deep-Tech do Brasil e um dos principais do mundo.
Pode nos contar sobre o processo de criação da gravadora Me Gusta Records junto com Thiago Pazos e Fernando Deperon, e quais foram os maiores desafios e conquistas até agora?
A Me Gusta Records nasceu em 2019, com a proposta de trazer artistas que já haviam tocado nas festas Me Gusta e novos talentos. Um dos maiores desafios foi tirar a ideia do papel e começar a gravadora. Nossa primeira conquista foi o lançamento de um EP do saudoso amigo Cícero Chaves, aka Smutty and Funky, em parceria com Krishna Baby. Desde então, temos trabalhado para fortalecer a marca e promover muitos artistas que admiramos e de vários lugares do mundo, além de termos obtido ótimos resultados, suportes de grandes nomes, boas vendas e entrada em charts importantes do Beatport como o TOP 100. Temos muitos desafios, e o maior deles é conseguir continuar crescendo mesmo com poucos recursos. Usamos bastante criatividade e conhecimento técnico para alavancar cada lançamento. Porém, acreditamos muito na marca e temos certeza que ainda conquistaremos muito mais espaço na cena.
Seus sets transitam por várias vertentes da música eletrônica. Como você desenvolveu essa versatilidade sonora ao longo da sua carreira?
Desenvolvi essa versatilidade ao entender que cada festa tem uma proposta, atmosfera e público diferentes. É claro que é necessário adaptar-se ao horário do set como final de tarde, início da noite, warm up, meio da noite e final de noite. Então entendi que eu precisava ter essa versatilidade, porém sem perder meu conceito e minha estética sonora. A experiência foi adquirida com o tempo, através de muito estudo de mercado. E continuo me atualizando, buscando o máximo de conhecimento possível e continuar aprendendo.
Você já tocou em muitos eventos importantes. Poderia compartilhar algumas experiências memoráveis desses gigs?
Participei do Bunker Festival em 2019, que foi o maior festival em que já toquei na minha carreira, e tocar no RioCentro, local que eu já havia frequentado tantas vezes como espectador, foi realmente marcante. Eu toquei no palco FAU (Festival de Ativação Urbana) que mesclava o Eletrônico, Rap e Bass Music e dividir os decks com big names como Papatinho, Black Alien, L7nnon entre outros, foi muito gratificante. Depois, tocar na D-Edge em São Paulo foi um sonho realizado em fevereiro de 2020, na festa Freak Chic. Tudo começou quando o Deperon, meu amigo, um dos meus sócios da Me Gusta Records e manager foi ver um jogo no Maracanã junto com o Leo Janeiro e Renato Ratier (dono do D-Edge). Então, conversando com o Ratier, ele comentou que tinha um artista e queria tentar colocá-lo para tocar lá no D-Edge. Prontamente o Renato Ratier falou para ele enviar o press kit e ficamos torcendo para rolar (risos). Foi uma noite inesquecível, pista cheia e eu tive a honra de tocar após o headliner da noite, o romeno Mahony. Outra experiência memorável foi tocar no Nox em Jericoacoara-CE, durante o carnaval de 2023 quando fiz minha estreia no Nordeste. Essas experiências foram incríveis e marcaram minha carreira.
Como produtor, você remixou vários artistas renomados como Flow & Zeo, Fran Bortolossi e Rodrigo Ferrari. Pode nos contar sobre o processo por trás de alguns desses remixes?
Foi uma honra trabalhar com artistas que admiro. Com Flow & Zeo, relançamos a faixa “Pleasure” com remixes, incluindo o suiço Khainz e o alemão Andreas Henneberg que tivemos ótimas avaliações e um feedback maravilhoso do Zeo que ressaltou que o remix tinha ficado incrível. Já o remix de Fran Bortolossi, ele nos enviou a faixa “Bikes Everywhere” que já havia sido produzida por ele quando estava em Amsterdam no ADE 2023, o qual a faixa era uma homenagem à cidade, onde se podia ver bicicletas por todos os lugares. Eu e Saulo Ferraro sugerimos convidar Gabriel Evoke para fazer mais este remix. Fiquei feliz em saber que ele curtiu meu trabalho. Já remixar “Sigma” para Rodrigo Ferrari foi um desafio emocionante, pois ele queria algo com uma pegada diferente das originais. Foi quando fiz uma versão Deep Electro que ficou super bacana e repercutiu bastante no Spotify.
Seu trabalho de produção recebeu muitos elogios e foi lançado em labels como Tropical Beats, SP Groove Records, Sorry Daddy Rec e Traxford Records. Como você escolhe as faixas e os artistas para trabalhar?
Preparo material que se alinha com a proposta musical da gravadora para qual estou enviando as demos. Seja fazendo uma collab com um artista que admiro ou remixes de faixas que gosto. Pela Tropical Beats fui convidado em duas ocasiões: a primeira foi para fazer um remix junto com o T_Pazos para o Phonix que cuidava do label junto com o Flow & Zeo e a outra ocasião foi para lançar uma faixa original numa compilação da gravadora. Já na SP Groove Records fui convidado por Alex S para fazer parte de um álbum de remixes de uma faixa dele que foi lançada no ano 2000. Esse álbum foi composto por artistas que admiro demais como o Propulse, Marcello V.O.R. entre outros. Em breve deverá sair uma grande novidade pela SP Groove que eu ainda não posso contar, mas pode esperar uma notícia quente! Na Sorry Daddy eu já havia lançado uma faixa original e duas collabs, uma com o Drama.efx (dono do label) e outra com o T_Pazos meu sócio na Me Gusta Records. O lançamento pela Traxsource foi um EP collab lançado em 2019 com o grande produtor Felipe Fella. Nos reunimos em duas ocasiões e fizemos duas faixas, na época enviamos para alguns labels e a Traxsource aceitou. Sempre escolho lançar com artistas que admiro e que compartilham da mesma sonoridade que eu.
Pode nos contar sobre os recentes showcases que você organizou na D-Edge no Rio de Janeiro? Qual a importância desses eventos para promover a cultura musical underground?
Os showcases da D-Edge Rio são essenciais para promover a cultura musical underground na cidade. Eles oferecem uma plataforma para artistas emergentes e consolidados se apresentarem para um público que valoriza autenticidade e inovação musical. Esses eventos promovem maior visibilidade para artistas locais, networking e fortalecem a cena underground criando um espaço onde o público local pode descobrir novas sonoridades e se conectar com a cena local.
Como plataformas de rádio e livestreams, como Alataj e Veneno.Live, influenciaram sua carreira?
Para mim é uma honra ter participado da programação desses canais e de todos os outros que participei até hoje. O Alataj é um canal muito completo e que admiro demais pela qualidade das matérias, notícias, livestreams, premieres e dj sets. São extremamente profissionais! Eu estou sempre acompanhando todas as novidades que saem por lá, é uma ótima forma de me atualizar e acompanhar tudo da cena. Já acompanho a rádio Veneno.Live a alguns anos e tive a oportunidade de fazer um set ao vivo, lá mesmo na sede em São Paulo. Em outra ocasião participei da Cocada Radio comandada pelo Leo Janeiro e com transmissão pela Veneno. Fico muito feliz em ter feito parte da programação, pois muitos artistas que eu admiro e são minhas referências já passaram por lá.
Em quais projetos você está trabalhando atualmente?
Estou trabalhando em um lançamento importante que ainda não posso revelar, mas que logo todos saberão. E em 19 de Julho realizei o primeiro showcase da Miniclub em São Paulo, no Crema Club. No dia 20 de julho me apresentei pela segunda vez no Galeria 1212 em Campinas, e eu fiquei muito animado em voltar para essa cidade que sempre me recebeu de braços abertos.
Olhando para sua trajetória, há algo que você teria feito diferente?
Não faria nada diferente, acho que as coisas estão acontecendo na hora certa depois de muito trabalho nos últimos anos. Tenho orgulho da minha trajetória e da minha determinação em seguir com meu sonho na carreira musical.
Qual é sua visão para o futuro da música eletrônica, tanto globalmente quanto no Brasil? Como você se vê contribuindo para esse futuro?
A música eletrônica globalmente e no Brasil está em uma trajetória de evolução constante, impulsionada pela inovação tecnológica, pela diversidade cultural e pela busca de experiências únicas e autênticas. Meu objetivo é nutrir e expandir a cena eletrônica tanto no Brasil quanto no mundo, garantindo que a cena fique cada vez mais inclusiva e que novos talentos tenham oportunidades para mostrar seu trabalho.
Que conselho você daria para DJs e produtores aspirantes?
Não desistam nunca dos seus sonhos! Sabemos que não é fácil ter o trabalho reconhecido, pelo contrário, é bem difícil, mas sem insistência a gente não chega em lugar algum. Tem que continuar o trabalho e fazer bem feito que uma hora as coisas começam a acontecer. Outra coisa muito importante é comemorar as conquistas, pois isso te deixa cada vez mais forte para prosseguir na jornada porque vamos lutar para conquistar muito mais.
Repórter: Di Aganetti
Edição: Orly Fernandes e Di Aganetti