Lynna, o nome por tráz da DJ ANNYL que iniciou sua trajetória musical misturando fitas no rádio da família, hoje brilha na cena clubber e eletrônica nacional. Desde sua infância em Goiânia até a mudança para São Paulo, a jornada da artista é marcada por desafios e descobertas. A carreira de Lynna evoluiu naturalmente, passando por experiências como performer, hostess e produtora, até alcançar grandes festivais, onde encanta com seu talento e produções únicas.
Representando a cena clubber com autenticidade, ANNYL se destaca por um estilo singular, resultado de sua evolução como artista e dedicação à produção de eventos e performances. Com forte presença em festas icônicas como Capslock e Mamba Negra, ela traz uma energia inovadora e uma abordagem diversificada para o seu som. Em sua carreira, a DJ explorou múltiplas vertentes da música eletrônica, consolidando-se como referência em festivais e pistas underground.
Nesta entrevista exclusiva, Lynna reflete sobre momentos decisivos da carreira, como a transição para a produção musical durante a pandemia e suas colaborações recentes. Ela também antecipa projetos futuros e ressalta a importância da diversidade na música. É um convite para quem deseja conhecer mais sobre a trajetória dessa artista e explorar o universo sonoro de ANNYL.
Vamos começar relembrando a sua infância. Como foi a experiência de descobrir a música mixando fitas em um rádio antigo da sua família? Quando você percebeu que queria seguir por esse caminho?
Por volta dos meus 8 anos, eu e minha irmã Livya, ganhamos um rádio bem 90’s com o incrível poder Ao começar a música, eu gravava, apertando REC e Play. Assim que terminava, apertava Stop, e ia construindo minhas primeiras mixagens, obviamente sem ter a mínima noção disso. Passado alguns anos, no fim da faculdade, me via preparando as playlists do final de semana, entre amigos e familiares minhas, lá estava eu compenetrada na entrega haha…
Sua mudança para São Paulo em 2015 certamente marcou uma nova fase na sua vida. Como foi a adaptação à cidade e o impacto disso na sua carreira musical?
Goiânia me ensinou e criou quem sou, amo muito minha cidade natal, sinto muita falta de todos que tive que deixar por lá. A cidade tem um potencial artístico, como Boogarins, Aurora Rules e Bruna Mendez. No entanto, a liberdade para produzir eventos e ser mais atuante na cultura local ainda era, em 2014, algo distante pra mim. Cheguei a um momento principalmente profissional que me fez decidir me mudar para São Paulo. Ao chegar na maior cidade do país, senti uma facilidade muito maior em me experimentar de diversas formas. Todos os trajetos traçados em Goiânia e São Paulo foram fundamentais na criação de quem sou como artista, entendendo processos e respeitando as pessoas por trás da produção.
Em 2016, você entrou para a cena eletrônica paulistana. Quais foram os primeiros desafios que você enfrentou e como o papel de performer, hostess e produtora moldou sua trajetória?
Lembro da primeira festa que descobri” (ou talvez elas tenham me descoberto). Fui em uma Mamba Negra embaixo do viaduto do Chá no Centro de São Paulo a convite do meu amigo ROD (Rodolfo Colombo, co-fundador da Caldo). Nem imaginava o que estava por vir, e apenas com o som do grave já estava apaixonada pela potência artística que transformou um simples espaço urbano. E daí não parei mais, comecei a frequentar, a conhecer cada vez mais pessoas, e quando vi já estava imersa, trabalhando, atuando e movimentando tudo que estava ao meu alcance.
A produção musical entrou na sua vida em 2020, durante a pandemia. Como foi essa transição e o que te inspirou a começar a produzir nesse período tão conturbado?
Na verdade a produção musical, iniciei antes até do que a pandemia. Em 2018 cursei produção musical com o querido amigo e artista Bad Mix, companheiro de anos da Caldo, que me desmistificou tudo sobre Ableton e produção. Mas foi na pandemia em que precisei desesperadamente aprimorar minhas produções (e ter o famoso tempo para desenvolvê-las), e consequentemente ter o espaço que precisava para trazê-las ao mundo.
Seu debut como DJ aconteceu na festa Caldo Lapada, em 2021, mas você já havia se envolvido em eventos online como Salva Rave e Pornograffiti. Como essas experiências online influenciaram a sua atuação presencial?
Minha experiência com a música eletrônica, vem de bem antes quando em 2016 eu me juntei a Caldo, na produção, performance e direção artística. Todo o processo por trás da criação e produção de festas, já ocupava espaço na minha rotina. Mesmo já tendo estudado inicialmente em 2018 produção musical com o artista Bad Mix, ainda não estava segura em como minhas músicas chegariam ao público, e se meus estilos musicais seriam aceitos pelo mesmo. Então foi durante a pandemia, eu, e creio que boa parte dos artistas, buscamos maneiras de continuar a exercer maneiras de atuação da nossa mensagem. Sendo assim deixei o ableton um cadinho de lado, e me dediquei a me conectar com o público por meio de lives, testar meu som e minha pesquisa através de lives e playlists.
Lynna, muitos te conhecem pelas redes sociais como @serotolynna, uma sacada boa pra cena que você representa muito bem como DJ ANNYL. Explica pra gente como se deu essa criação do nome do seu projeto de DJ.
Para o universo artístico como DJ Annyl, trouxe através da cor anil, que emerge como uma assinatura simbólica, fundindo a pureza energética do anil com as frequências profundas das minhas performances. Essa tonalidade azul profundo se torna uma extensão da minha própria arte, que, em cada set, busco oferecer ao público uma experiência de transcendência, proteção e renovação.
Eu procuro trazer para Annyl, criar um espaço para que cada frequência musical funcione como uma gota de anil, promovendo uma catarse coletiva. Sua paleta sonora, como o anil, não apenas cobre e transforma, mas também limpa e eleva, permitindo que o público se conecte consigo mesmo e com a experiência compartilhada na pista.
Pensando assim vejo meu projeto não como apenas uma cor ou um som, mas um estado de espírito, onde a música e a purificação se encontram para proporcionar uma jornada imersiva de renovação e conexão, tão vibrante e poderosa quanto a própria cor anil.
Em 2022, você teve aulas de mixagem com Paulo Tessuto. De que maneira essa formação impactou o seu estilo como DJ? Houve algum momento em que você percebeu uma evolução significativa nas suas apresentações?
Sempre fui uma entusiasta da música eletrônica nacional, e fã de carteirinha da Capslock, Mamba Negra, e várias outras festas que existiam antes e após minha chegada a São Paulo. Sempre fui muito ligada à festa Capslock, pois sentia nela uma diversidade muito grande de estilos musicais e diferentes maneiras abordadas pelos artistas em entregar as mixagens. Eu acredito que sim, tanto o Paulo, como a Capslock, e vários outros eventos fizeram parte da minha formação inicialmente como público, e depois como DJ. Mas creio que um grande divisor de águas em minhas apresentações, foi minha estreia na Cardume em 2023 na Praça Ramos, um local que sempre almejei apresentar, me preparei bastante para essa entrega e ter essa oportunidade foi incrível.
Nos últimos anos, você se apresentou em grandes festivais, como o Universo Paralello, e em eventos importantes em Manaus e Florianópolis. Como essas experiências ampliaram sua visão artística e musical?
Desde que iniciei na cena, seja como produtora de festas ou performance, tive a sede e o privilégio em conhecer várias pistas do Brasil, como MasterPlano (BH), LostFound (GO), 1010(BH), Perversiart (RS), Festa até as 4 (RJ), Surreal (SC), com isso senti nossa diversidade nas pistas, nosso país e a sua riqueza multicultural, que expandiram a minha visão cultural como artista, permitiram que eu pudesse fazer parte mesmo que momentâneo, de toda a experiência artística que cada festa e cidade me proporcionou. Ficou claro pra mim a imparidade e como ela é necessária para eu, através da minha pesquisa, ser capaz de comunicar com cada público particularmente.
Em breve você irá lançar o remix de “Fugaz” pela Cardume Records. O que esse lançamento significa para você e o que os fãs podem esperar dessa nova fase da sua carreira como produtora?
Eu iniciei minha participação em 2020, tendo meu primeiro lançamento no compilado VÁ – ANEXO, um projeto que reuniu diversos produtores, DJs, artistas visuais e performers de todo o Brasil, destacando a força da comunidade de música eletrônica durante a pandemia. No final do mesmo ano, contribuí para o VA – Caldo Volume 1, uma celebração dos quatro anos do coletivo Caldo realizada online, com masterização Samuel Malbon (Bad Mix) e arte criada por mim. O lançamento com o Fugaz, tem algo bem especial vindo aí, com mais amadurecimento sonoro. Espero que o público se divirta e dance bastante quando ela for tocada nas pistas.
Por fim, olhando para o futuro, quais são as suas expectativas para os próximos anos? Você tem algum projeto ou sonho específico que deseja realizar na música eletrônica?
Em 2025, pretendo lançar meu primeiro EP, e meu sonho é trazer ao mundo meu projeto de Live, que ainda está em fase inicial, mas é algo que acredito muito.
Repórter: Dih Aganetti
Edição de texto: Orly Fernandes