Do Rio de Janeiro para os maiores clubes do país, DJ BETRIZA se consolida como um dos nomes mais promissores do Techno no Brasil.
DJ BETRIZA representa a nova geração de artistas que estão moldando a cena underground brasileira com uma autenticidade inconfundível. Sua jornada começou em Curitiba, onde absorveu influências musicais de diferentes estilos antes de se estabelecer no Techno. Desde então, ela tem conquistado espaço nos principais clubs e festas do país, trazendo para suas apresentações uma energia poderosa e uma conexão genuína com o público.
Ao longo da entrevista, a DJ compartilha momentos marcantes de sua carreira, desde suas primeiras experimentações musicais na infância até sua decisão de mergulhar no Techno após uma experiência transformadora no Tribaltech. A carioca fala sobre as colaborações com grandes nomes da cena e o impacto dessas parcerias em seu desenvolvimento artístico. Além disso, revela detalhes sobre sua gravadora, a RawTech Nation Records, co-fundada com a DJ Bllack Rose, e sobre seus próximos lançamentos, convidando os leitores a mergulharem em seu universo musical único.
Nesta entrevista exclusiva, a DJ nos conduz por sua jornada desde as influências do gospel e do rock na infância até sua entrada triunfal no Techno. Ela compartilha seus desafios, aprendizados, se tornando um dos pilares da cena underground brasileira. Não perca a oportunidade de conhecer agora mesmo um pouco mais sobre essa artista que, com versatilidade e paixão, está redefinindo a música eletrônica no Brasil e além!
Quando você começou a ter contato com a música? Como foi sua experiência no coral e na orquestra da igreja durante o período em que esteve no colégio interno?
Desde pequena, vivia dois mundos musicais distintos: música gospel aos sábados na igreja adventista e uma variedade de pop em casa, graças ao gosto eclético da minha mãe. Aos 10 anos, fui para o colégio interno adventista. Comecei tocando percussão na fanfarra do grupo de desbravadores (semelhante aos escoteiros), experimentando instrumentos como bumbo, surdo e prato. Na orquestra mirim, continuei na percussão enquanto aprendia na fanfarra. Aos 14 anos, entrei para o coral do colégio. Embora não me visse como cantora, fiz o teste e, apesar de preferir cantar contralto, a regente insistia em me colocar no grupo do soprano. Mas acabava que eu explorava outras vozes nas apresentações.
Naquela época, você já tinha uma ideia de que a música teria um papel importante na sua vida? Como foi a experiência de aprender a tocar trompete e percussão?
Sempre sonhei com a música, mas ainda não sabia como ela se encaixaria na minha vida. O trompete foi uma das minhas primeiras experimentações, e a percussão me ensinou muito sobre ritmo. Ambos moldaram minha visão sobre a música.
Mesmo com essas influências mais tradicionais, o que te levou a se apaixonar pelo rock? Como surgiu esse interesse?
Durante o colégio interno, não tinha acesso a outros gêneros musicais e aprendi que o rock era considerado algo negativo, quase como um pecado. Durante as férias escolares, quando ficava na casa dos meus tios, tinha a oportunidade de consumir mais outros estilos de música. Foi quando me aprofundei no rock, Alanis Morissette, Linkin Park e Audioslave foram alguns nomes que me influenciaram bastante na época.
Aprender a tocar violão sozinha é um grande desafio. Como você conseguiu e o que isso significou para você na adolescência?
Na adolescência, era eu, um violão, uma revistinha de tablaturas e um grande sonho. Apesar da forte ênfase em musicalização no colégio interno, eu não tive acesso a aulas de violão. Passei horas aprendendo as primeiras notas sozinha. Quando saí do colégio, decidi que queria tocar guitarra como Jimi Hendrix (risos). Essa jornada foi significativa para mim, pois não apenas desafiou minhas habilidades, mas também solidificou minha paixão pela música e meu desejo de me expressar através dela.
Como foi a transição de uma musicista do coral e da orquestra da igreja para uma guitarrista e baixista em bandas de rock em Curitiba? O que mudou para você musicalmente?
Foi um momento de grande libertação. Embora o colégio, o coral e a orquestra tenham me ensinado valores importantes, percebi que não é necessário abandonar um aspecto da música para se dedicar a outro. A transição para o rock trouxe uma nova sonoridade que me fascinou imediatamente: solos de guitarra, bateria com ritmos fortes e o baixo no contratempo. Mas além disso, o rock me proporcionou uma mudança profunda, oferecendo uma nova forma de expressão musical e expandindo minhas perspectivas como artista.
Você pode compartilhar como era a cena musical de Curitiba na época em que você se apresentava nos porões? O que você aprendeu nessa fase da sua carreira?
Curitiba era um polo do rock. Tocando em bares como Lemmy’s Bar e Hangar Bar, aprendi muito sobre a importância de se dedicar ao sonho artístico, mas também sobre os desafios de equilibrar a vida artística com as responsabilidades acadêmicas.
Em 2018, você teve seu primeiro contato com a música eletrônica no Tribaltech. Como foi essa experiência e o que te atraiu nesse universo?
Meu primeiro contato em festival foi em 2018 na Tribaltech. Mas antes disso, frequentei muitos clubes como MEET Club , CATS Club em Curitiba. Porém o festival mesmo foi em 2018. Pra mim, foi onde tudo aconteceu. Eu pisei meu pé lá e quem tava tocando era a Blancah, fazendo um live. Cheguei bem na hora que ela estava cantando, então pra mim foi mágico. Eu pensei: eu quero isso pra minha vida, chegou a hora de voltar pra música!
O que te levou a decidir mergulhar na música eletrônica e começar a estudar mixagem na Yellow DJ Academy?
Depois da experiência mágica com Blancah no Tribaltech, fiquei obcecada pelo universo da música eletrônica. Comecei a frequentar outros festivais e festas locais em Curitiba. Queria entender os artistas, como criavam suas músicas e como tocavam. Embora eu tivesse uma paixão por tecnologia quando criança, a complexidade de uma CDJ me intrigava. A Yellow DJ Academy foi a escolha natural para meus primeiros passos, pois, ao visitá-la, senti que era o lugar ideal para começar meu aprendizado concreto na mixagem.
Entre tantas opções na música eletrônica, por que o Techno? O que esse estilo te oferece como artista?
Quando comecei na Yellow DJ Academy em 2018, estava em uma fase de exploração. Experimentei vários gêneros com meu professor, Nassur, que me guiou não só na mixagem, mas em todo conhecimento sobre música eletrônica. Além dele, meu mentor e amigo Bry Ortega teve um papel crucial em minha jornada. Foi com Bry que conheci o Techno mais a fundo, e isso foi um ponto de virada para mim. O Techno, para mim, representa a mesma libertação que o rock trouxe anteriormente, e vai um pouco mais além. Me permite experimentar, explorar, criar, sempre com muita referência e reverência às origens. Mais do que um gênero musical, o Techno é uma filosofia de vida, carregada de cultura, conexão única, com um impacto profundo e positivo na minha vida.
Mudar-se para São Paulo foi um passo importante na sua carreira. Como essa mudança impactou sua evolução como DJ e produtora?
São Paulo é um lugar que pulsa cultura, e isso se aplica ao techno. A mudança me deu a chance de conhecer e criar relações verdadeiras com artistas e produtores que estão na cena há décadas e aprendi e aprendo muito com eles. Além disso, o acesso facilitado às festas e eventos na cidade foi essencial para meu desenvolvimento como DJ e produtora, ajudando a impulsionar minha carreira.
Desde 2022, você se destacou na cena underground brasileira. Quais foram os momentos mais marcantes dessa fase para você?
Todos os convites e oportunidades que surgiram em 2022 foram marcantes para mim. Eu tive uma sucessão de estreias em clubes renomados como Cave em Santos, Club Danghai em Curitiba e Caos em Campinas, além de festas independentes como Hail the Light e Techno Route, todas com muitos nomes importantes. Mas as que mais me marcaram como artista foram as noites na D.Edge. Já na minha primeira estreia, tive a oportunidade de abrir a noite para grandes referências do techno, Tarter e Salata. Essa noite foi um divisor de águas para mim; foi a primeira vez que pisei na D.Edge antes das portas se abrirem. Tive a presença de todos meus amigos, a energia estava tão boa do começo ao fim que teve gente chorando de felicidade no final do meu set, foi incrivel. Outras noites marcantes também aconteceram lá, como quando abri e encerrei a noite para Lilly Palmer no after da DrumCode, além das noites em que toquei na Moving D.Edge, dividindo a cabine com grandes nomes como DJ Murphy e Adiel.
Como você descreveria a energia e a versatilidade que você traz para suas performances? Como isso reflete quem você é como artista?
Acredito que tudo o que faço vem com muita vontade, paixão, dedicação e sinceridade, e tento captar essa energia para transmitir a quem está me assistindo ou ouvindo. Muitas vezes, estudamos uma proposta de set para uma gig específica, e pode haver insegurança sobre o que criamos ou até mesmo muita pressão interna. Durante minhas performances, tento converter essas emoções em energia alinhada com meu propósito na música. Além de entreter e fazer as pessoas dançarem e se divertirem, quero também que elas reflitam sobre sua importância no mundo e a ousadia de fazer algo diferente nas minhas performances é onde acredito que minha versatilidade se destaca.
Você já dividiu a cabine com grandes nomes do Techno. Como essas colaborações influenciaram sua carreira e desenvolvimento artístico?
Foi uma grande honra dividir a cabine com nomes tão respeitados, mesmo com pouco tempo na música eletrônica. Essa experiência me mostrou que grandes oportunidades vêm com grandes responsabilidades. Para acompanhar esse ritmo, percebi a necessidade de me dedicar ainda mais. Todos os artistas com quem toquei tinham algo em comum, além de vasta experiência como DJs, eles tinham suas próprias produções de qualidade e com suportes expressivos. Essa inspiração, combinada com meu desejo de me expressar através do meu som, foi fundamental para decidir que eu começaria a criar minhas próprias músicas. Escolhi a Comunidade de Áudio André Salata para me apoiar nessa fase de aprendizado e desenvolvimento.
Em 2023, você co-fundou a RawTech Nation Records. Qual foi a motivação para criar essa gravadora e qual é a sua visão para o futuro dela?
Ao longo da minha trajetória na música eletrônica, senti a necessidade de fazer algo além de mim mesma, por toda uma comunidade que se identifica com o Techno. Eu gosto de dizer que não escolhi o Techno; o Techno me escolheu, e a gravadora é uma consequência disso. Quando eu encontrei alguém com as mesmas paixões que eu, que é minha sócia e parceira Bllack Rose, a RawTech Nation finalmente saiu do papel. Nossa visão para a RawTech Nation Records é continuar oferecendo autenticidade, identificação e acolhimento, além de muita música de qualidade, tanto para a pista quanto fora dela. Acredito que, enquanto mantivermos estes princípios, a gravadora alcançará patamares relevantes e ganhará o reconhecimento que merece.
Seu primeiro lançamento na gravadora teve um grande impacto, sendo apoiado por artistas como Flug. Como foi essa experiência e o que podemos esperar do seu próximo lançamento?
Comecei a estudar produção há três anos na Comunidade de Áudio André Salata, mas lancei minha primeira faixa apenas no final do ano passado (2023). Produzir é desafiador e exige muita dedicação, estudo e coragem para expor o trabalho às críticas. Receber o apoio do Flug e ver minha faixa sendo tocada na pista, foi uma grande motivação para continuar melhorando. Em setembro deste ano, lancei mais um single pela minha gravadora, com três faixas que considero as minhas melhores produções até agora.
Quais são seus planos para o futuro? Como você vê sua evolução dentro da cena Techno e o impacto que deseja causar na música eletrônica no Brasil e no mundo?
Meu plano é continuar evoluindo como artista e produtora, enquanto expando a presença da minha gravadora. Quero mergulhar mais fundo na produção, sempre inovando e criando faixas autênticas. Na gravadora, meu objetivo é promover novos talentos e fortalecer a cena Techno, tornando-a uma força influente e respeitada. Além disso, a ideia de poder inspirar outros artistas a encontrarem seu próprio caminho é algo que sempre esteve entre meus objetivos como artista.
Repórter: Dih Aganetti
Edição de texto: Orly Fernandes e Dih Aganetti