DESTAQUE | DO HEAVY METAL PARA AS PISTAS: Adorn e sua trajetória na cena underground

Da posição de baterista do Heavy Metal para a intensidade do hard techno como DJ e produtor: Adorn chegou com uma identidade forte na cena underground. O DJ e produtor possui um relacionamento de longa data com a música, que nasce junto com sua experiência como baterista de bandas de heavy metal na adolescência. 

“É igual uma empresa, o dono e criador pode começar a trabalhar sozinho, mas se ele trabalha para crescer, vai chegar uma hora que ele vai precisar de apoio de mais gente para ele ficar disponível e atuando em outro ponto que é crucial e só ele faz.” – Adorn.

Validado pelo suporte de nomes globais, como Dax J, 999999999, Dave The Drummer e Richie Hawtin. No seu catálogo, já constam assinaturas de gravadoras como Cartel Recordings, Back in Black, Under Division e DSR Digital, além de comandar a sua própria label, Rave Lemon, e ter atingido o Top 11 de hard techno no Beatport. Um futuro ácido e brilhante está se desenhando à sua frente.

Todas essas influências musicais tornaram Adorn o artista de Destaque que ele é hoje em dia. Confira agora, a entrevista que ele nos concedeu:

Primeiramente gostaríamos de agradecê-lo por aceitar nosso convite. Você começou na música ouvindo Heavy Metal, como foi o início de tudo? Quem te apresentou o Metal?

Olá, leitores da Colors, eu que agradeço por este espaço. Na verdade, a música me cercou desde criança e cheguei a essa conclusão há pouco tempo. Tudo começou quando eu tinha uns 4 anos, minha mãe se casou novamente e seu ex marido era sonoplasta de várias emissoras, nessa idade eu comecei ouvindo Elton John, Barry Manilow, Roupa Nova, Alcione entre outras. Eu escutava tudo o que eles me apresentavam. E era muita música. Depois de um tempo, comecei a desenvolver meu gosto musical, época de Nero e E-mule, ouvia e baixava tudo do Top TVZ, na época. Após uns 12 anos, minha mãe ficou noiva novamente. Dessa vez, o meu padrasto, Carlindo, era Headbanger e foi através dele que descobri o Metal. Ele me ensinou muito sobre o gênero e a música em si. Nesse período, quando fazíamos festas em casa, eu sempre ficava responsável por baixar os clipes e as músicas para todos ouvirem. Então, daí, começou, também, a arte da pesquisa musical.

E sobre a bateria? Como começou?

Foi através do Carlindo. Ele já era baterista há uns 15 ou 16 anos. Ele me ensinou o básico da bateria, quando chegou na hora de avançar, ele me obrigou a estudar e pesquisar por mim mesmo. Disse que estaria ali só para tirar dúvidas e me mostrar o caminho das pedras do instrumento. Então, essa pegada de ”faça você mesmo” eu já tenho desde adolescente.

Ensaio fotográfico. Fotógrafo: Fernando Sigma.

Eu sabia que para ter a carreira que eu queria, eu iria precisar produzir minhas tracks, e eu não tinha muito tempo livre para isso, o único que eu tinha eu dedicava a discotecagem. Então, parei de tocar para aprender sozinho como produzir” – Adorn.

Como surgiu esse seu interesse pelo Djing e pelo Techno?

O interesse pela música eletrônica em geral começou quando um amigo me mostrou a track Florest” do Bruno Furlan. Eu já tinha tido contato com Depeche Mode, Prodigy, Information Society, Kraftwerk e entre outros, mas não tinha o conhecimento da história da música eletrônica. E o Techno veio depois, comecei a pesquisar mais, aí descobri Thomas Schumacher, Dax J, Joseph Capriati, Adam Beyer, Boris Brejcha, foi aqui que me apaixonei pelo gênero e larguei o mainstream logo de cara. Sobre o Djing, alguns amigos já tocavam em barzinhos e etc, e um dia pedi para eles me mostrarem mais dos equipamentos, me apaixonei e comecei a tocar como Open Format até conseguir só tocar música eletrônica.

E, isso foi algo que larguei quase que de cara. Eu sabia que para ter a carreira que eu queria eu iria precisar produzir minhas tracks, e eu não tinha muito tempo livre para isso, o único que eu tinha eu dedicava a discotecagem. Então, parei de tocar para aprender sozinho como produzir. 

”Uma característica forte minha é que eu produzo minhas tracks para eu mesmo tocar. Eu pensei naquilo, e eu apresento aquilo de várias formas. É muito bom quando artistas consagrados tocam a sua música, mas o melhor de tudo é você se consagrar por ter produzido e ter tocado ela, eu não carrego os suportes como frente de carreira” – Adorn.

Você vem se destacando como produtor no mercado. O que chama mais sua atenção: produção ou Djing?

Sabemos que as duas frentes são essenciais para qualquer um que queira ter uma carreira mais séria e sólida. Você pode começar só tocando, mas o mercado vai te cobrar de produzir, vice e versa, e nenhum dos dois caminhos são garantidos e rápidos. Na minha opinião, os dois têm que chamar sua atenção como artista, tem uma estrada para percorrer, mas para mim o artista só é completo com os dois. Uma característica forte minha é que eu produzo minhas tracks para eu mesmo tocar. Eu pensei naquilo, e eu apresento aquilo de várias formas. É muito bom quando artistas consagrados tocam a sua música, mas o melhor de tudo é você se consagrar por ter produzido e ter tocado nela, eu não carrego os suportes como frente de carreira. Na minha opinião, só desse jeito o artista vira único e se destaca dos demais nas duas frentes.

Fotos por @fernando_sigma

Você comanda a gravadora Rave Lemon, fale um pouco sobre seu trabalho na label.

A Rave Lemon começou através de uma necessidade. Em 2020, eu precisava lançar o Ep Holy Rave, eu e o Tarter estávamos trabalhando assiduamente no envio de demos para as labels e, após 6 meses, nenhuma acatou o release. Foi então que usei isso ao meu favor, produzi mais tracks com a temática, fiz o álbum e criei a Rave Lemon para lançar. E era o momento certo para aquilo, eu já tinha a vontade de ter minha Label, mas achava que eu precisaria de mais tempo e “gordura” de carreira para fazer. Se não fosse por isso, acho que a Rave Lemon não teria nascido tão rápido. Agradeço a todos os nãos e aos conhecimentos transmitidos pelo Tarter. E o trabalho continuará, por hora, somente eu e convidados por mim irão lançar pela Label. Não gosto de gravadora com volume, lançado por lançar qualquer coisa que tenha hype. A Rave Lemon foi concebida com intuito de ser mais um braço meu no mercado, ela irá crescer à medida que eu cresço, e vice e versa.

Fotos por @fernando_sigma

Recentemente você voltou de sua primeira apresentação na Europa, como foi essa experiência?

Foi na Itália. Quando eu saí do Brasil, a perspectiva é que tivessem 4 gigs ao todo, algumas (em outros países) não aconteceram, o evento e outras negociações infelizmente, não avançaram. Foi um desafio grande estar lá e foi um grande feito para mim, muitas coisas não foram mil maravilhas, mas como já era o esperado, comecei minha carreira internacional muito mais rápido do que o esperado e isso tende a crescer.  Não importa o tamanho do começo, temos que começar.

Como produtor, você costuma construir as suas tracks em cima de conceitos. Como você busca inspiração para fazer isso?

Eu consigo inspiração de todos os jeitos. Às vezes, eu simplesmente assobio um ritmo e isso me dá ideia de groove ou para construir um synth por exemplo, mas um fato é que ouço muita música fora do techno, ouço muita coisa diferente, isso me ajuda muito em insights. E o conceito vem muitas das vezes de como estou me sentindo, um assunto que estou estudando ou já estudei, letras de músicas e etc.

Hoje, quais DJs e produtores chamam sua atenção?

Ainda é o Dax J. Temos muitos artistas bons na cena, toda hora eu descubro um novo, recebo promo e demos de outros. Com certeza, alguns deles vou pontuar em uma próxima oportunidade. É que para mim o problema é que hoje temos muitos artistas que só produzem em busca de suporte, em busca do hype do momento. São poucos artistas hoje que eu ouço e sinto uma conexão, um som verdadeiro, com identidade. E toda hora estou flertando com uma pegada de track diferente, meu sets vão além do hard techno. Eu já disse para muita gente que a produção avança conforme a mixagem avança. Quanto melhor e mais ”diferente” você tocar, assim serão suas produções. O maior desafio para um Produtor é conseguir ser verdadeiro na produção, fazer algo além do óbvio do mercado, é conseguir expor e expressar o seu cru.

Fotos por @fernando_sigma

Na sua visão, quais as melhorias precisamos ter na cena underground nacional?

Profissionalização. Tem muito coletivo que não quer evoluir por medo de atingir o “Mainstream”, acham que por estruturarem o evento, ter área de descanso e etc, eles vão deixar de ser Underground. Tem anos de trabalho e ainda querem ficar trabalhando em troca de tapinha nas costas e nome em copo de plástico. Isso apodrece a cena, desanima os artistas, é uma total via contra a evolução. Como eles querem que novos artistas ou artistas em ascensão apoiem o evento deles tocando lá se eles não apoiam o artista pagando ele? É uma cadeia evolutiva, por exemplo, se o promoter investir mais no evento dele em diferencial e line up, mais gente ele vai chamar e consequentemente conseguir ter um evento que venda ticket, ele pagando o artista, o artista vai conseguir investir na carreira dele e assim continua. 

”O dono e criador pode começar a trabalhar sozinho, mas se ele trabalhar para crescer, vai chegar uma hora que ele vai precisar de apoio” – destaca Adorn.

Você é um artista que investe na sua carreira, atuando com uma equipe ao seu lado, como foi que você percebeu a necessidade de ter esses suportes?

Isso acontece naturalmente, chega uma hora que o artista precisa evoluir, e essa estrutura de equipe vem. Cabe ao artista analisar se é o que ele quer… É igual uma empresa, o dono e criador pode começar a trabalhar sozinho, mas se ele trabalha para crescer, vai chegar uma hora que ele vai precisar de apoio de mais gente para ele ficar disponível e atuando em outro ponto que é crucial e só ele faz.

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Instagram – @adornreal

@ravelemon

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Tiago Jerônimo

Chefe de Reportagem da Cena Clubber, Colunista e Repórter na Colors DJ

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