Com sua Arte Drag, técnicas de dança/teatro, mixagens impecáveis e uma identidade visual marcante, Dallas De Vil, vêm conquistando cada vez mais espaço com suas apresentações icônicas.
Apesar do pouco tempo de carreira, já tocou para artistas renomadas da cena LGBTQIA+ como Gloria Groove, Luiza Sonza e Pepita.
“Desde o primeiro set, me senti responsável por “reger” a energia da pista de dança através da música…” Dallas De Vil.
A Revelação do Pop deste mês vem falando um pouco sobre suas inspirações, carreira, como tem sido seu ano apesar da pandemia e alguns projetos futuros. Confira agora nossa entrevista inspiradora com esta artista:
Antes mesmo de começar seu trabalho como DJ e Drag, você já se inspirava em Lady Gaga para dançar e compor visuais. Ela é sua maior referência musical? O que te chama a atenção nela e quais outras divas e/ou estilos musicais te inspiraram?
Lady Gaga é minha maior referência em vários aspectos. A excelência por trás de seu trabalho artístico multidisciplinar converte qualquer espectador em fã, e sua versatilidade musical e performática não são menos surpreendentes que o profundo discurso filantrópico de seu conteúdo e ações. O poder da arte na sociedade é muito forte, precisamos de líderes midiáticos responsáveis como Lady Gaga para incentivar o amor, respeito, poder e liberdade. A mensagem por trás de sua música ecoa como uma onda de esperança em contramão à correnteza de ódio que enfrentamos nos sistemas machistas, racistas, LGBTfóbicos etc em que vivemos – é uma voz de resistência, bela e necessária.Eu me inspiro em artistas que ousam ocupar novos espaços, como Elton John fez com seu rock de piano sendo assumidamente homossexual, RuPaul, Pabllo Vittar e Gloria Groove fizeram na música e televisão como drag queens, Kim Petras, Linn da Quebrada e Jup do Bairro fizeram como transgêneres, BLACKPINK como asiáticas, e por aí vai…
Quem já teve o prazer de te ver se apresentando, sabe que trata-se de um Show com direito a montação fashionista, performance teatral, dança e, claro, mixagens impecáveis que não deixam a pista esfriar. Como e quando você decidiu juntar todos os elementos que tornam suas apresentações tão marcantes?
O convite para que eu virasse DJ aconteceu inesperadamente. Minha resposta imediata foi: “posso vir montada?” – senti que era a oportunidade perfeita pra explorar minha paixão recente pela arte drag. Desde o primeiro set me senti responsável por “reger” a energia da pista de dança através da música, montei as playlists mais divertidas e me permiti curtir o som genuinamente na pick-up. Já passei por diversas escolas/grupos de dança e teatro, então aproveitei meu repertório performático e ocupei os palcos com coreografias, dublagens e artimanhas visuais que diferenciam meu DJ set e convidam o público a se divertir comigo.
Mesmo com pouco tempo de carreira você já tocou em diversas festas reconhecidas da cena LGBTQIA+, como foi tocar em shows de artistas renomadas como Gloria Groove, Luiza Sonza e Pepita? Além disso, quais festas te marcaram?
Dividir palcos com referências nacionais são algumas das minhas experiências profissionais favoritas até o momento. Além de admirar imensamente as artistas pra quem abri shows e conhecer pessoalmente, obtive muita visibilidade local e ainda tive a oportunidade de receber o prestígio inédito do meu próprio pai.
Quando o público passa de milhares de pessoas, a troca energética é fortíssima, mas posso com tranquilidade dizer que todas as festas pra onde levei minha arte pela primeira vez foram marcantes, principalmente levando em consideração a quantidade de cidades diferentes que viajo a trabalho. Sou muito grata a cada oportunidade de ocupar novos espaços, me conectar com novos artistas e públicos.
“Às vezes tudo o que precisamos para nos entregar à nossa paixão/arte é alguém que acredite em nosso potencial fora da internet.” Esta foi uma frase retirada de um de seus textos no Facebook.
As pessoas que acreditam em nosso potencial são extremamente essenciais, mas qual a importância da internet na disseminação do seu trabalho?
Se pensarmos na arte como forma de expressão, é importante que minha mensagem tenha um ouvinte do outro lado. Busco reverberar sentimentos e visões de mundo, principalmente através das pistas de dança e até pra chegar nesses espaços, dependo da internet – é nessa plataforma que consigo reunir e compartilhar meu material, me conectar com outros artistas, produtores culturais e, até mesmo, expandir o público da minha arte.
“O poder da arte na sociedade é muito forte, precisamos de líderes midiáticos responsáveis como Lady Gaga para incentivar o amor, respeito, poder e liberdade.” Dallas De Vil.
Pabllo Vittar já disse que quando está de Drag prefere ser tratada no feminino. E para você? Qual a relevância do pronome de tratamento?
Desde que iniciei minha trajetória drag, enfatizei o propósito unissex do nome que escolhi. Vejo minha arte como manifesto independente de gêneros binários e aceito quaisquer pronomes, tendo uma pequena preferência pessoal por pronomes neutros ou femininos, quando montada, por questão de resistência ao patriarcado confrontado pela arte drag.
Depois de mais de sete meses de pandemia, o quão produtiva você foi durante este período?
Minha própria perspectiva sobre produtividade artística passou por alterações durante o período da quarentena, visto que a prática usual de minhas montações tinha como finalidade os palcos noturnos. Iniciei este período aproveitando o tempo em isolamento para correr atrás de um sonho antigo de estudar produção musical e agora estou praticando canto para futuramente dar asas à minha expressão pessoal através da música autoral – tudo enquanto dou continuidade ao meu ensino superior em publicidade e propaganda, que foi adaptado para ocorrer à distância. Desde que recebi a notícia desestabilizadora sobre a pandemia do covid-19, tive inúmeras crises psicológicas desencadeadas pelas perdas humanas, o caos político-econômico-social instaurado, a distância de meu trabalho e, consequentemente, da minha comunidade. Respeitar meus processos psicológicos foi minha primeira reação, buscando diminuir minhas cobranças pessoais e refletir sobre questões pertinentes de minha (r)existência no sistema. Procedi ocupando minha mente aos poucos, tanto com atividades de lazer doméstico, quanto com os estudos/práticas artísticas que me ajudaram aos poucos a sentir progressos pessoais ao longo deste ano tenebroso.
Quando não consegui enxergar nenhuma luz no fim do túnel, olhei para dentro e me permite encontrar brilho para iluminar o caminho de pessoas que tive a possibilidade de ajudar a enfrentarem essa fase também, foi a melhor salvação pra mim mesma.
“Busco reverberar sentimentos e visões de mundo principalmente através das pistas de dança…” Dallas De Vil.
E, por fim, Quais os seus projetos para os últimos meses deste ano?
Encerrarei outubro participando virtualmente de um DJ set especial de halloween da drag Etcetera, que contará com performances visuais de outras queens conhecidas como Halessia, Miranda Preston, Cece Grace, Dollya Black e Waka Shame. No mês de novembro, volto a discotecar em eventos privados e bares adaptados para atender públicos reduzidos com segurança e tenho participação prevista na 10ª temporada do reality virtual “Corrida das Drags”, pelo qual trarei muito conteúdo visual inédito nas redes sociais.
Aguardo ansiosamente para reencontrar (mesmo que gradualmente) meus amigos, colegas de trabalho e público artístico, aos quais sou muito grata pelo apoio que temos trocado no decorrer desses meses. Deixo a todos um abraço digital e um lembrete de que precisamos continuar cuidando das nossas saúdes física e psicológica, prestando atenção também naqueles com quem convivemos. Tempos melhores virão.
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