COLUNA | Como você se vê no espelho?

Nietzschianismo diz que liberdade é não ter vergonha de si mesmo e isso faz me questionar: como eu me vejo no espelho? Como me vejo nas redes sociais? Estão compatíveis? Sou livre?

Antes de começar essa coluna, já adianto parafraseando a capa do livro da JoutJout: tá todo mundo mal. O sofrimento faz parte da vida, é impossível fugir dele. Fomos ensinades desde que nascemos a nos odiar, por exemplo, se não fazemos parte de uma caixinha, não pertencemos a lugar algum e assim, logicamente, passamos a ter vergonha de nós. E o número de pessoas que não se vêem pertencendo a lugar algum aumenta a cada dia, talvez porque estejamos no processo de acordar um pouco pras falsas expectativas que foram colocadas em cima de nós e aceitamos de maneira ingênua – e isso seria positivo para início de amor próprio e liberdade – ou talvez porque realmente não pertencemos a lugar algum, somos únicos, e até podemos nos sentir fazendo parte de comunidades, mas nossas singularidades não permitirão que a gente se sinta completamente fazendo parte dessas caixas que foram criadas por nós.

Dito isso, penso sobre o que estamos mostrando através das redes sociais, por exemplo. Será que é quem somos, quem queremos ser, quem projetamos, quem queremos agradar, quem queremos desagradar? Qual a intenção por trás de cada post, cada foto photoshopada (e eu sou uma dessas), ou cada textão? Que história eu quero contar com meus stories? Paletas de cor, algoritmo, número de likes, número de views em vídeos? Quanto isso tudo está distorcendo a imagem real que eu tenho de mim mesma, aliás, qual a imagem que eu tenho de mim? É a do espelho ou a das redes sociais? Porque você pode de fato acreditar que sua vida está ali naquele post de forma mais fidedigna possível, e quando se olha no espelho – real ou figurado – você tome um susto por não ser como você imaginava.

Eu assisti a um vídeo do canal Alexandrismos no qual a Xanda fala especificamente desse momento em que você acredita ser algo que não condiz com seu espelho e, quando você percebe, sua frustração aumenta. A sensação de não pertencimento mais ainda. O autoconhecimento foi esquecido. Você quase vive num mundo de fantasias pessoais de quem vc queria ser e não de quem você é. E no final, como diz Maria Bopp, você fica chateada porque o que foi postado não é real e quem está vendo fica chateado por achar que é real. Perceba que eu quando postamos uma foto sem filtro a legenda é “sem filtro”. Qual a necessidade de avisar? É sua forma de protesto aos filtros? Ou é porque NAQUELA foto a imagem refletida é equivalente ao que gostaria de ser e faz questão de dizer “olha, sou assim”? Dito isso, quando conhecemos alguém e vamos direto nas redes sociais da pessoa dar a famosa stalkeada, não estamos vendo quem a pessoa é e sim, aquilo que ela quer mostrar, e isso diz muito sobre alguém caso seus olhos estejam abertos a isso.

Essa coluna não é sobre um ataque às redes ou aos filtros, veja bem, eu me incluo nessa categoria, eu uso, eu distorço muitas vezes minha imagem, eu mostro o que quero mostrar ou quem eu quero ser, o que não significa que nada daquilo seja uma parte da verdade do que está aqui dentro. Afinal, se é quem eu quero ser faz parte de mim, certo? Basta eu me auto analisar.

E nem vim aqui com verdades nem conclusões, vim com questionamentos para pensarmos juntes. Se você não sair da minha coluna pensando, refletindo, eu não fiz meu trabalho de forma correta. Então vamos pensar: qual a diferença da imagem do que vejo no espelho com aquilo que mostro pro mundo. Por que são diferentes? Por que tenho em mim a necessidade de me encaixar em padrões? A quem quero agradar ou desagradar? O que quero dizer de fato por trás do meu texto? Qual o significado do que mostro nos Stories? Quão é possível conhecer alguém através das redes?

Vamos pensar pra que o autoconhecimento nos leve cada vez mais distante da distorção da nossa imagem. Use seus filtros, faça seu textão, poste seus stories, mas com consciência do porquê. É um exercício que eu tenho feito muito recentemente e tem me trazido muitas respostas. Aconselho.

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