Não é regra, mas desconfie de que das festinhas mais intimistas e despretensiosas dos guetos tupiniquins surgem os maiores e mais renomados eventos da cena.
Sabe aquele rolê que começou com uma vaquinha de amigos, virou coletivo e quando menos perceberam tudo virou uma grande festa? Desde a grana do aluguel dos equipamentos até o apoio braçal na execução… Eis aqui então o embrião da festa independente.
Elas existem com propósitos de serem a casa legítima da expressão artística underground; elas se perpetuam para que mulheres, bichas pretas, pessoas trans, periféricos e outros artistas tenham espaço onde, claramente, jamais teriam.
O movimento é prazeroso, é bonito, mas não é fácil. Aos poucos, vai ganhando nome, habitués e logo tem identidade própria. Os registros são de intenso e massificado movimento que sacode milhares de entusiastas e fãs de um furdunço cibernético – e que saudade a gente precisa assumir que estamos dessa boa aglomeração na pista.
Financeiramente, a força das massas e dos coletivos – a partir da venda de ingressos e produtos do nicho – acabam sendo o alimento que dá sustento a isto. Embora não possua, inicialmente, auxílio das políticas públicas de incentivo à cultura, ou ainda de grandes marcas, cada vez mais vemos bons exemplos de showcases que nos inspiram.
Este modelo de negócio cresce e é quase sempre o mesmo: entretenimento underground com vasto, amplo e diversificado equipamento artístico movimentando DJs + Lives + VJs + Performers + Promoters, além de outros tantos profissionais bem gabaritados em cyber estruturas culturais.
Nestes fervos tão disputados são gerados postos de trabalho, turismo clubber (e raver) enxertando um recheio apetitoso de recursos financeiros, o que fortalece ainda mais a economia da cultura e da atividade do DJ.
A magia da megalópole favorece este fenômeno pois ali está o epicentro destas manifestações artísticas. São Paulo é o que é por agregar todas essas condições em um único grande centro urbano. Há quem diga que a cidade é detentora da maior fatia de festas independentes da cena eletrônica no mundo. Eu não duvido.
E quando as condições não são favoráveis? E se a cena não conseguir prevalecer em meio a dezenas de iniciativas culturais mais bem patrocinadas/produzidas?
Creio que Festas Independentes são como organismos vivos: nascem, crescem, proliferam e, eventualmente, morrem. E isso é parte essencial do ciclo. É do berço do underground essa característica de ir, arregaçar as mangas e fazer acontecer. A arte não espera por soluções vindas de políticas culturais ou do mainstream.
Dito isto, podemos concluir que estes heróis trabalham com o intuito de salvarem essência das pistas, expressando-se dentro dessa gama cultural notívaga, ou mesmo fora dela.
Valorize a festinha do seu coletivo favorito; pague pelo ingresso, evite pedir cortesia. Tenha empatia pelo trabalho do amigo. Viva o rolé independente!