COLUNA | Cores e Música – Impressionismo Parte 1

Sempre imaginei, desde pequeno, um mundo onde artistas expusessem suas idéias e conceitos de uma forma mais abstrata que concreta, mais indireta que direta – ou seja, mais conceitual que popular, cujo observador teria que “absorver”, processar e digerir, frente a forma simples de “ver e gozar”. Conforme fui crescendo, percebi que esse mundo existia: chamava-se Impressionismo, e era mais concreto do que eu imaginava, conhecendo Monet, Renoir, Van Gogh entre outros.

Monet – Ponte Japonesa (1899)
Renoir – Duas Irmaes Proximas Ao Lago (1881)
Van Gogh – Campo de Trigo Com Corvos (1890)

Mas, o que era o Impressionismo? Sendo movimento ou não, um grupo de pintores resolveu enfatizar mais a técnica do que a legenda, desconstruindo a ideia formal de retratar o real, com movimentos, pinceladas, contrastes de luz e sombra, e uso voraz das cores no plano complementar, para que a imagem formasse um “puzzle” ótico, mas que em algum ângulo, o observador “percebesse” a imagem integral. Resumindo: quando tiramos uma foto desfocada, percebemos o que tem nela muito melhor de longe que de perto; e quanto mais longe, mais percebemos o que está na foto desfocada, e quanto mais de perto ela se desconstrói.

Quando criança, a grande diversão era “apertar” os olhos vendo obras de Monet (Ponte Japonesa, Catedral de Ruão), Renoir (Duas Irmãs Próximo ao Lago) e Degas (Aula de Dança, O Absinto).

Degas – Aula de Dança (1874)

Este conceito-efeito também foi atribuído a música. Debussy e Ravel foram os primeiros “alvos”, porque estendiam seus acordes, diminuíam o tempo das composições e, principalmente, usavam os próprios instrumentos para fazerem efeitos para “simular” pássaros e água. Mas na música, essa relação de “impressão” é mais complexa; a maioria dos compositores chamados impressionistas, utilizavam os acordes e dissonâncias principalmente para sugerir uma atmosfera, que fosse romântica, que fosse dramática, medo, calor e frio. Mal sabe Beethoven, que se tornaria bem mais tarde um “impressionista”, com a abertura de sua Quinta Sinfonia, para sugerir mistério e suspense. Estava sendo criado a trilha sonora? Pergunte então a Lars Von Trier o porquê do uso abusivo do prelúdio de Tristão e Isolda de Wagner em seu Melancolia; depressão, orgulho, melancolia e grandiosidade permeiam uma trama que simplesmente narra destruição.

Ravel – Bolero
Beethoven – Sinfonia Nº 5

Para continuarmos, acho melhor mencionarmos um pouco de música Programática, precursora da música Impressionista, vigente no século XIX, mas que na verdade já seria a própria Impressionista rolando como conceito aberto; As Quatro Estações de Vivaldi é uma das peças programáticas mais famosas, que tenta retratar ventos gelados, insetos, camponeses dançando, tudo separado pelas estações do ano. Beethoven também fez programática (ele mesmo disse que sua Pastoral é mais sentimento paisagístico que música), assim como Wagner (considerado “multimidia”). Mas vale lembrar que programática é só conceito de música instrumental.

Vivaldi – As Quatro Estações
Wagner – Preludio de Tristão e Isolda

Conforme fui crescendo, ouvindo e absorvendo meus discos, detectei mais pontos impressionistas em tudo que ouvia (a evolução fusion / funk de Miles é um bom exemplo – expressionismo?), e já na música eletrônica, de 80 para 90, percebi que a facilidade de simular ou “representar” situações acústicas, com noises, timbres e samples, já era um universo real e concreto (Art of Noise). Montei um home studio e iniciei meu aprendizado digital, e em paralelo, a paixão e interesse nas originais soundtracks eram evidentes.

Art Of Noise – Close (To The Edit)
https://www.youtube.com/watch?v=Oq1bg-5q04k
Miles Davis – The Hen

A era digital deixava cada vez mais evidente as possibilidades infinitas dessas representações impressionistas e os músicos produtores, famintos pelo “novo”, traziam o que se chamava de “esperimentalismo”, definitivamente para a apreciação pública.

O meu resumo até então seriam duas posições distintas desta chamada Música Impressionista: uma era a representação e simulação de sons reais, como vento, chuva, insetos, através da distorção e acordes mistos (As Quatro Estações, por exemplo); a outra era harmonização enfática, dramática, afastada da noção ocidental, mas estruturada em escalas maiores, dissonantes, etéreas como a música oriental, puxando para o imaginário, lúdico, triste ou alegre (peças que já tinham seus nomes apropriados, como sinfonia PASTORAL, prelúdio A TARDE de um fauno, BOLERO de Ravel). Ou seja, Música Programática e Música Impressionista são partes de um universo ainda maior de tentar chegar às harmonias não só aos ouvidos, mas também à alma.

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