COLUNA | Remix: o coringa do original – Parte 1

Até o começo dos anos 70, conformava-se em tocar uma atrás da outra, as faixas ou os 7″, conforme se ouvia nas rádios ou em casa. Qual poderia ser a mágica para tornar surpresa aquilo que o público, já “pra lá de Bagdá”, explodisse ainda mais na pista? Ora, vamos “estender” isso que já é sucesso e torná-lo mais longo. É o orgasmo que dura mais. Como fazer isso? Ou na “gillette”, ou abrir a mesa novamente.

Bem, primeiro foi na “gillette” e credita-se isto, reza a lenda, a Tom Moulton, que já tocava suas fitas emendadas reel-to-reel no bar que trabalhava em NY. Tom, virando seus 80 este ano, foi modelo, vendeu discos, trabalhou em gravadora e apresentou sua ideia: nasceu o 12″ single, coisa parecida com os antigos 78 RPM, com uma faixa de cada lado. O foco não era melhorar as músicas, e sim “alongá-las”.

A proposta de Moulton era inflar ainda mais a cultura cluber em ascensão: “…Ok, isso parece ótimo, mas quando toco no clube ou é muito curto, muito lento ou o bumbo não está alto o suficiente…”.

A coisa começou com o “cheiro” da original, mas ainda nos 70, overdubs eram inseridos, conectados ou fundidos aos originais; instrumentos e sons, criando uma segunda versão daquilo que já era “foda” pra caramba: agora o orgasmo não estava só estendido, mas também diferenciado.

Eu me lembro, adolescente, em matinês na NYC Discoteque aqui no Rio, ouvir surpresas completamente diferentes das versões álbum que já tocavam fazer o povo delirar ainda mais: “Fess Up To The Boogie”, faixa do Bionic Boogie, projeto do americano Gregg Diamond, com cheiro do original, mas cheio de extras; “Shame” , sucesso da cantora Evelyn “Champagne” King, passava “batido” pela original e caía numa construção com mais congas, graves e solos. E foi parar nas rádios.

As gravadoras então criaram este novo produto, singles diferenciados, prensados em 12″, com possibilidades de melhorias sonoras (registro físico aberto; up na masterização), e adesão imediata dos DJs, a que foram entregue a tarefa, primeiramente, de realizar as produções; despontam nomes como Walter Gibbons, Jim Burgess, John Luongo, François Kevorkian, entre outros, e Tom Moulton, é claro. Tornaram-se DJs-produtores: artistas de renome já faziam questão de fulano ou beltrano abrindo ou reabrindo as mesas de seus sucessos.

As décadas foram passando, os estilos se transformando (disco, house, technopop), máquinas eram criadas num auxílio luxuoso (Roland machines, por exemplo), os DJs-produtores com cachês bacanas – a arte de criar remix já era um fantástico ganha-pão, e o formato 12″ single continuou firme e forte, e agregando mais uma mídia nos 90’s que eram os CDs singles: mais versões ou todas elas juntas no disquinho espelhado.

Com o advento do digital, mais uma mídia era incorporada, podendo não só ser vendidos os arquivos dos álbuns em diversos formatos, mas os singles também, assim como os DJs já se preparavam tecnologicamente para “tocar” este novo tipo de mídia – era só ir às lojas digitais, comprar e baixar.

Mas a coisa não ficou tão simples assim – uma estrutura paralela estava disponibilizando os arquivos de graça na internet (geralmente em baixo bitrate), em proporções geométricas e, não só arquivos de música, mas de filmes, docs, softwares e… programinhas de colar loops e sonzinhos. Qualquer um poderia ser agora um Tom Moulton “giletando” seus loops, em casa, confortavelmente, e os mais “talentosos” e espertos, conseguiam fazer coisas bem “próximas” às feitas em estúdios. Com o tempo, esse passou a ser o parâmetro.

Então, por que uma gravadora pagaria caro a um produtor, se existia uma fila na porta de “remixers(?)” que entregavam “parecido” e de graça?

Esse papo a gente deixa pra depois.

Linx:

B.T. Express – Do It (‘Til You’re Satisfied) – Tom Moulton Mix – 1973
Gregg Diamond Bionic Boogie – Fess Up To The Boogie – Extended – 1978
Evelyn “Champagne” King – Shame – 12″ Mix – 1977
Double Exposure – Ten Per Cent – Walter Gibbons Disco Mix – 1976
Nicolette Larson – Lotta Love – Jim Burgess Mix – 1978
Melba Moore – You Stepped Into My Life – John Luongo Mix – 1978
Musique – In The Bush – François Kevorkian Mix – 1979

Compartilhe:
Instagram
Para Você

Posts Relacionados

DESTAQUE | DO ROCK À MÚSICA ELETRÔNICA: A Trajetória Inspiradora do DJ Vegaas na Cena Tribal House

Com uma história marcada por superação e paixão pela música, o DJ Vegaas tornou-se um DESTAQUE na cena tribal house, conquistando fãs do Brasil e da Europa. Vegaas representa a

REVELAÇÃO | DJ WILL CAPITÃO: Uma Jornada de Arte, Som e Estratégias para Conquistar a Música Eletrônica

Do teatro ao marketing digital, DJ Will Capitão une paixão e planejamento para criar sua marca e se destacar na cena Tribal house brasileira.  Nesta edição, nós trazemos uma entrevista

EVENTOS | TARAKA 24H: Label do Gordo chega no Brasil trazendo um super long set em BH e SP

Taraka está confirmada em São Paulo e Belo Horizonte. O que será que vem por aí? Após atrair milhares de pessoas em sua última passagem pela América Latina, incluindo o

LANÇAMENTOS | FAIXA A FAIXA: Álbum “Senna Driven”

Através de faixas exclusivas criadas por alguns dos maiores DJs e produtores do mundo, o álbum “Senna Driven” captura o espírito e a intensidade que definiram a carreira e a

LANÇAMENTOS | Projeto “Senna Driven”, Assinado por 33 Artistas, Chega Essa Semana nas Plataformas Digitais

Faça o pre-save aqui Reunindo alguns dos maiores DJs e produtores do mundo, projeto “Senna Driven” transporta valores e trajetória de superação de Ayrton Senna para o universo da música