COLUNA | PAPO DE TRAVA: Perspectiva Trans Parte I – Infância

A repetência de certos termos faz parte de uma técnica apelativa para chamar atenção

Sempre começo pensando que é complicado escrever sobre minha existência e das minhas similares, mas começarei diferente dessa vez: é fácil, na real, é bem simples nessa parte primeira.

 

Quem complica, como sempre, é a cisgeneridade com suas disforias mentais e adoecedoras. São vocês, Progenitores! Um erè/uma criança tem uma capacidade mental pura e, conforme a idade e maturidade, com possibilidade de entendimento de como se sente e de como se vê maior do que os próprios progenitores. 

 

Como assim, Kukua? Sim! Óbvio, um bebê não consegue definir seu gênero porque ele nem sequer necessita ou consegue entender o que gênero pode significar. Assim como a mentalidade de muitos animais domésticos, um bebê só quer saber de comer, chorar, cagar, mijar e dormir. Nenhum tipo de responsabilidade, causalidade ou consequência a respeito dessas 5 atitudes preocupam os bebês.

 

Contudo, Progenitores, com 6, 7, 8 anos, a criança já começa a entender essas causalidades, consequências, a se interessar por isso. Os feromônios e os hormônios binarizantes começam a funcionar nessas idades e a mente dessas crianças começa a ser afetada e influenciada para seu desenvolvimento, sim!

 

Aquela fase de questionamento de tudo é a prova disso. Nem toda criança efetivamente questiona com palavras, mas também há as que questionam com atitudes. Porquê disso, porquê daquilo, às vezes criando perguntas que vocês mesmo nem conseguem responder.

 

A Transgeneridade é possível e real na idade infantil. O fato de não aceitar isso, devido à transgeneridade ser um fator de Dissidência e nenhum progenitor gostar de saber que sua cria sofrerá por fugir do padrão, é o que faz as próprias crianças adoecerem. 

 

Eu não fui uma criança trans, creio que antes de haver real necessidade de que eu me impusesse responsável por mim mesma, eu tentei fugir para um mundo meu, não me encarando de fato, e, assim, tardando o autoentendimento da minha própria existência. Mas eu sou eu, Kukua Dada.

Nem toda existência trans funciona como eu. Não é como se eu estivesse esperando a maioridade para me “assumir” (como infelizmente algumas pessoas trans efetivamente fazem). É como se antes do “clique” que rolou dentro de mim, eu nunca tivesse tido uma real oportunidade de me olhar e saber quem eu era.

 

É importante que as crianças sintam essa oportunidade num ambiente familiar. Que vocês, Progenitores ou até, vocês, Parentes Efetivos, lhes dêem essa oportunidade. A criança exponencialmente se tornará um ser adulto mais seguro de si, com menos receio do mundo, (que sempre foi e sempre será cruel, mas quanto mais receio se demonstra, mais o mundo cai em cima, não é?) com maior possibilidade de se destacar por sua inteligência e potenciais, não apenas pela sua Transgeneridade.

 

Essa obra é um início de vários apelos à cisgeneridade que, de fato, não busca querer entender a Transgeneridade em nenhum momento, estando esta Cisgeneridade errônea ou não, estando tal Transgeneridade enferma ou não. E é triste essa necessidade incessante de chamar atenção sempre por tal deslize. De ter que explicar que o motivo de chamarmos atenção quando vocês deslizam não é uma simples “besteira”, “frescura”. Do fato de “passarmos pano” para diversas tipos de perguntas (ou até atitudes) invasivas para mantermos um emprego, uma posição de prestígio (que é rara), uma oportunidade (raríssimas).

 

Se esforcem mais, por gentileza. Pelas crianças de agora e do futuro. Não se cegue à realidade apenas porque ela não lhe soa ideal. Seu filho é seu porque tem seu código genético, mas não é uma posse sua. Ele terá sua própria vida para delinear e cuidar, você gostando ou não, aceitando ou não. Facilite que sua cria se conheça para que a mesma possa te devolver o amor que lhe foi dado com todo carinho, atenção e oportunidade de autoentendimento!

Foto de Kukua Dada

Kukua Dada

Editora, Colunista e Repórter

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