Eu fiquei um tempinho sumido, mas voltei e voltei com a proposta de uma nova série de artigos. Dessa vez, eu quero escrever a respeito das identidades gays. Por isso, preciso neste artigo dizer algumas coisas que julgo importante para você, leitor, compreender os tópicos que irei abordar ao longo das próximas publicações. Minha mãe sempre me dizia: “o combinado não sai caro”, então este artigo é tipo um preâmbulo, ou seja, vou adiantar os temas e expor de onde estou partindo (os meus pressupostos). Assim, me julguem, porém tenham em mente o meu ponto de partida. Isso vai me ajudar na sentença final.
Começo dizendo que não tenho e nunca tive a pretensão de escrever verdades absolutas. Até porque elas só existem no encontro. Funciona assim: a minha verdade, a qual se parece muito com a tua verdade, se encontram e aí, então, lindamente temos uma verdade absoluta, caso contrário, são muitas as verdades. Não é verdade?
Quero abordar temas e sobre eles apontar situações, vivências e observações pessoais sobre ser um homem gay, logo, se pode notar que não vou fazer ciência aqui, não vou determinar normas, não vou tratar de crenças, mas, com certeza, vou problematizar, orientar novos olhares e causar desconforto nos mais desavisados.
Outra coisa importante é que, quando o assunto é identidade, não há como não usar o termo no plural, por isso, usei o termo identidades, pois na contemporaneidade é complicado tratar a identidade como singular, tendo em vista que a sociedade se transformou e se transforma constantemente e com ela os seus indivíduos e as suas culturas.
Nesse sentido, os indivíduos e as sociedades adquiriram novos hábitos, aprenderam novos conhecimentos, mudaram seus comportamentos em virtude de novas necessidades. Enfim, tudo mudou e o resultado disso é que, agora, na Era Moderna há identidades descentradas, isso quer dizer que as identidades foram e estão sendo construídas a partir de um repertório em que há o padrão hegemônico (dominante) como também há outras referências diferentes do padrão.
Isto é importante: eu escrevo a partir da ideia de que tudo que diz respeito ao humano no universo social resulta de uma construção, da relação entre o indivíduo e a sociedade, não há algo anterior a existência no mundo, nada é pré-existente, não existe nada em essência, não há deus, não há energia cósmica. Com isso, não estou dizendo para você deixar de crer em algo, continue crendo.
As identidades têm a ver com as vivências e as vivências ocorrem em territórios e os territórios são tão diversos entre si, por isso, ser um homem gay na capital de São Paulo é diferente de ser um homem gay em outras capitais e em cidades do interior dos estados e, claro, em outros países. Aliás, as identidades gays não existem em todos os povos. Há diferenças culturais altamente determinantes entre povos originários, indígenas, orientais, ocidentais etc.
Diante disso, eu vou escrever sobre identidades gays no plural, porque não há uma e, sim, variadas identidades gays. Vou separar essa discussão em tópicos temáticos e consequentemente em colunas publicadas semanalmente. Estes são os títulos/temas: “ser homem gay”; “se passar por hétero”; “um corpo gay”; “afetividade”, dores e amores”; “o desejo gay”; “violência e a formação de ‘meninos gays’”; “a homossexualidade não existe”; “prazer, pecado e revolução”; “mito, religião e sexualidade”.
Mais uma coisa para finalizar, é uma série de colunas, então, por favor, acompanhe e me ajude a discutir os temas, comente, envie mensagens, problematize, questione, coloque o teu ponto de vista. Eu juro que tentarei responder da melhor forma. Eu espero que esta jornada seja um encontro entre mim e você, leitor. Espero também que este encontro seja importante para nós e que dele a gente possa fazer reflexões transformadoras sobre nós e nossas relações com as outras pessoas.