COLUNA | Entre tambores e sintetizadores: o Tribal House se reinventa na pista

A batida que sempre arrepiou agora se mistura, se renova e te tira da zona de conforto. Chega de replay: novas vertentes invadiram a pista com força, do afrohouse ao techno minimalista.

Se existe uma batida capaz de fazer o corpo arrepiar antes mesmo de entrar na pista, é a do Tribal House. Com raízes fincadas nos porões nova-iorquinos e nos afters latinos dos anos 90, essa vertente da música eletrônica foi, por muito tempo, território sagrado para quem busca intensidade, percussão e libertação. Uma linguagem sonora que dialoga com o corpo, com a ancestralidade e com a potência coletiva de existir, especialmente para corpos LGBTQIAPN+.

Mas…será que ainda dá pra chamar de reinado uma cena que tem repetido as mesmas fórmulas desde 2010, em looping eterno? A verdade é que a pista tribal tá abrindo brecha (e não é rachadura), é revolução. A monotonia de sets previsíveis começa a ceder lugar para a entrada de outras vertentes: progressive melódico, deep house, techno minimalista e até afrobeat eletrônico. E quem ainda torce o nariz talvez precise se atualizar… ou seguir dançando no replay.

O Tribal House já não está mais sozinho. E ainda bem. Porque quando uma vertente se fecha no próprio umbigo, ela morre afogada em glórias passadas. Como diz o nosso editor-executivo, Dih Aganetti: “Tribal House já não é apenas um estilo, e sim uma cultura.” 

Agora, DJs, produtores, agências e festas estão rasgando os manuais e perguntando: por que não? Por que não trocar aquele drop tribalzudo por uma virada atmosférica que ninguém viu chegando? Por que não começar a noite no afro e terminar num delírio percussivo psicodélico? Spoiler: está funcionando.

Prova de que a pista tribal finalmente começou a tirar o salto do piloto automático é o que tem rolado por aí em festas que se recusam a ser só mais uma extensão do after padrão. A Apogeu, nova label que nasceu do núcleo da já consolidada Festa Guapo, tem uma proposta ousada (e necessária): dar palco aos sons que muitos tribaleiros puristas fingem ignorar, mas que todo mundo ouve no fone quando acha que ninguém tá olhando.

A Apogeu não quer só “ser opção”. Ela quer dar rasteira em quem achava que tribal house era só sobre bater cabelo no compasso do BPM saturado. Com vocais explosivos, drops cheios de apelo e uma curadoria que flerta sem pudor com o lado mais comercial e dançante do house, a festa propõe uma nova narrativa pra pista: menos ortodoxia, mais tesão sonoro.

E se alguém ainda duvida que essa virada vem quente, anota aí: Cat Dealers e Dubdogz estarão juntos, em B2B, no palco da Apogeu durante o festival que a Guapo arma no Komplexo Tempo, em pleno feriado de Corpus Christi, o mesmo que transforma São Paulo no epicentro da maior Parada LGBTQIAPN+ do mundo. A cidade vai receber milhões de turistas, e o Komplexo, vários palcos: o da tradicional Guapo, dedicada ao tribal house, e o da Apogeu, que promete tirar o público da zona de conforto e botar pra dançar sem dogmas.

“Queremos trazer de volta a emoção de viver um evento bem produzido, que marca na memória. Acho que passamos da hora de voltar a valorizar a experiência em si e mesclar isso a uma música de qualidade, reunindo grupos de diferentes bolhas.”

Comenta Eudes Freire, um dos diretores do grupo para a PlayBPM.

Eles ainda roubaram a cena na abertura do show da cantora Lady Gaga em Copacabana, dando o pontapé inicial em um dos maiores eventos musicais da história, que teve como grande destaque a superestrela global.

O show foi simplesmente épico, reunindo uma multidão recorde de mais de 2 milhões de pessoas. Uma noite que entrou para os livros do cenário musical brasileiro! A energia era contagiante, com milhares de fãs criando uma “sinfonia” única ao abrir seus leques em sincronia, produzindo um som que ecoou pela orla de forma inesquecível.

Eventualmente, aos sábados, quem frequenta o clube High se depara com a pista externa dedicada ao house. É ali que, com frequência, DJs de outras cenas musicais comandam o som, fazendo a galera vibrar e mantendo a pista em clima de pura conexão. São aqueles momentos em que o tribalzão dá uma pausa e o público aproveita para respirar, fumar, conversar ou simplesmente flertar sob a batida mais leve, mas igualmente hipnotizante. 

Outro marco dessa virada foi a festa Sinestesia, organizada pela produtora Maison Missionary, que fez sua estreia no Komplexo Tempo, em São Paulo, e não deixou ninguém indiferente. Com uma proposta audaciosa, o evento não foi apenas uma festa, mas uma imersão sensorial completa, onde música, luz e movimento se entrelaçaram para provocar emoções intensas e criar experiências que redefiniram a vivência da noite, além do habitual tribal house. 

Foram 22 horas de maratona musical, distribuídas em quatro palcos, cada um trazendo uma proposta única e cuidadosamente curada para envolver o público em diferentes atmosferas. Cada espaço foi um convite a explorar novas dimensões da música eletrônica.

A jornada teve início com um pôr do sol embalado pelos melhores beats de house, tech-house e afro house, acompanhado por grandes nomes que já brilharam em palcos como Tomorrowland, Lollapalooza e Rock in Rio, como Carola e Sarah Stenzel.

O Palco VORTEXX se destacou como o coração pulsante da Sinestesia. Com curadoria musical de Mateus Medeiros, o espaço mergulhou fundo na essência do clubber underground paulistano, trazendo uma seleção afiada de artistas que representam o melhor da cena eletrônica alternativa. Uma verdadeira imersão ao som de Paulete Lindacelva, Etcetera e outros talentos da cena. O Palco VORTEXX repetiu o sucesso recente dentro da única edição do ano da Maison, que aconteceu no dia 19 de abril.

Já na Tailândia, a White Party de Bangkok escancara o que muitas festas brasileiras ainda temem: a pluralidade musical é uma força, não uma ameaça. Fui à edição de Réveillon de 2024 e confesso que estava curioso e ansioso para ouvir e dançar na mesma noite com Fedde Legrand e Tom Stephan. A proposta? Chocar, emocionar e, sim, desconcertar. Tribal House? Sim. Mas também groove latino, progressivo europeu, tech de pista quente. A White Party não entrega rótulos, entrega experiências. Foram 4 festas memoráveis, com Sagi Kariv, Mor Avahami, Anne Louise, Dani Brasil e Tommy Love dando o primeiro play do ano novo.

Nessa coluna, o convite é direto: desça do pedestal, suba no beat e se permita duvidar da própria playlist. Porque a gente não tá aqui só pra bater cabelo. A gente tá aqui pra dançar o novo, o estranho, o híbrido. Tribal House sempre foi sobre liberdade. Agora tá na hora de provar isso.

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