COLUNA | COM QUE TEMA EU VOU?

Você pode ter o look pronto, o ingresso comprado e até o leque bordado com strass. Mas me responde com sinceridade: você sabe por que vai pra essa festa?

Estamos a pouco mais de um mês da Semana Pride em São Paulo, um feriado que virou termômetro do Pink Money e festival de alegorias com BPM. É quando a capital se transforma na maior passarela a céu aberto do orgulho LGBTQIAPN+ do mundo. Mas também é quando o feed vira um mar de teasers, linhas editoriais performáticas e uma avalanche de eventos com o mesmo DJ, o mesmo tema requentado e a mesma promessa de “imersão sensorial”.

E você, no meio disso tudo, escolhe qual? A mais bombada? A que mais aparece nos stories? Ou aquela que ainda consegue te fazer sentir alguma coisa?

Se você curte a cultura tribal house, independente de qual vertente seja, sabe que a cena no Brasil passou por uma mutação. E ela tem data: setembro de 2004. Quando a The Week chegou, trouxe com ela um novo padrão de produção. Foi o divisor de águas. Antes era anárquico, inventivo, quase artesanal. O depois virou luxo, alto investimento e direção de arte.

Mas vamos voltar no tempo.

Nos anos 90, o Rio fervia com a X-Demente e sua prima underground, a Val-Demente. Eram festas onde a liberdade era corpo e a fantasia não era só figurino, era manifesto. Não havia conceito de storytelling, porque as histórias estavam nas pessoas, não no palco. Não precisava de reel. Bastava chegar.

Nos anos 90, o Rio fervia com a X-Demente e sua prima underground, a Val-Demente.

Depois veio a Toy, a festa que talvez tenha entendido melhor esse equilíbrio entre produção e alma. Principalmente fora da The Week, quando podia ousar sem medo. A cada edição, um novo capítulo. Quem viveu, sabe.

E aí vieram elas: as superproduções. Superfestas. Supertemas. Superfigurinistas. A concorrência teve que correr atrás. São Paulo viu surgir festas como a BIGGER, com seu exército de ursos e couro. Estive em duas edições do Festival Biggerland (uma extensão da BIGGER) com festas temáticas diurnas e noturnas. Em uma delas, uma noite nostálgica dedicada ao melhor dos anos 2000, comandada pelos DJs Tony Moran e Abel Aguilera, o clima era de celebração intensa. E, sim, é um espetáculo: um desfile de expressão pessoal marcado por empenho, vaidade e identidade.

Falando em montação: quando DJs resolvem também entrar na brincadeira, a Jungle Drag mostra a que veio. Alberto Ponzo, por exemplo, não apenas tocou, ele viveu a experiência. Foi montado por Lysa Bombom, e como ele mesmo contou em suas redes sociais: “Ali, você entende que não está só vestindo uma roupa. Está vestindo uma história.”

É sobre isso.

Identidade. Pertencimento. Transformação. Não é só festa. Não é só close.

É o que o documentário Dreamboat (Amazon Prime) mostra tão bem: gays do mundo todo reunidos num cruzeiro, lidando com suas inseguranças, escolhendo figurinos como se fossem armaduras afetivas. Porque por trás de todo look montado existe uma pergunta não respondida: vão me aceitar aqui?

Agora, segura essa: antes de tudo isso, em 2005, uma festa virou lenda, sem figurino caro, sem palco giratório, sem LED 4K. Apenas uma ideia poderosa: o mistério. A Festa do Rei foi um viral analógico. Criaram um personagem — o Rei — que interagia com o público via Blogspot, soltando pistas e enigmas. O local da festa? Só revelado no dia. O line-up? Segredo absoluto. Resultado: a galera invadiu a antiga SoGo na Consolação e fez história.

Hoje, com a Sueño prometendo ser o novo grande delírio coletivo da temporada (Guapo + Maison + Komplexo Tempo), voltamos a sonhar com aquele frio na barriga. Um lugar onde o lúdico encontra o tribal house, o tema encontra o desejo, e a produção finalmente entrega mais que fumaça. O DJ espanhol Nacho Chapado vem aí com o novo selo no dia 17 de maio.

Então te pergunto, de novo:

Você vai sair só por causa de um flyer bonito ou porque sabe que tem festa que toca onde o mundo real não alcança?

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