COLUNA | Burnout: não deixe a sua alma quebrar

Com o álbum Renaissance, Beyoncé fez história no Grammy e se tornou a artista mais premiada de todos os tempos. Mais do que merecido, né?

A obra possibilitou muito mais do que prêmios à cantora, gerou impacto social real.

O hit Break my Soul se tornou um hino mundial de protesto e inspirou demissões em massa por todo o mundo, impulsionadas pelo esgotamento físico e mental causados pelo trabalho, o Burnout.

Na letra da música, Queen B descreve a exaustão causada pelo excesso de trabalho e a busca por um novo caminho: 

“Eu acabei de me demitir e vou encontrar um novo lugar. Eu vou explodir, tirar essa carga. Vou encontrar um novo estímulo. Caramba, eles fazem eu me esforçar tanto. Trabalho às nove, depois das cinco. E eles forçam meus nervos. É por isso que não consigo dormir à noite”.

“A obra descreve alguém com sintomas evidentes de quem sofre de Burnout, que é resultante do desgaste físico e mental devido ao excesso de trabalho”, relata o neurocientista José Fernandes Vilas, referência nacional na Síndrome de Burnout.

Se sentir cansado o tempo todo, não conseguir produzir, ter dificuldades em finalizar tarefas, falhas de memória, dificuldade para dormir, irritabilidade, apatia e desconexão com o trabalho são sinais da Síndrome de Burnout, fique atento.

Em 2022, o Burnout foi finalmente classificado pela OMS como uma doença ocupacional, após mais de 30% dos trabalhadores do planeta sofrerem com a síndrome do esgotamento. No Brasil, 1 em cada 5 profissionais sofrem de Burnout, segundo pesquisa da USP.

Mas pra quê tanto? Quando a gente perdeu a mão e o fazer mais e mais se tornou nocivo ao ponto de sacrificar a nossa saúde? Quando passamos do nosso limite? 

O Burnout apenas evidenciou que o ritmo de vida do mundo está insustentável, adoecedor. 

A sobrecarga de trabalho afeta também os profissionais da música e atingiu nomes como Anitta, Rihanna e Wanessa Camargo, que já falaram abertamente sobre os seus episódios de esgotamento físico e mental, mostrando que todos estão suscetíveis.  

  • Anitta: em 2019, a cantora foi diagnosticada com estafa mental e Burnout e teve que cancelar compromissos profissionais; 
  • Rihanna: em 2011, ao finalizar um de seus álbuns, a cantora teve um colapso causado pela exaustão e teve inclusive de ser levada às pressas ao hospital;
  • Wanessa Camargo: em 2016, sobrecarregada em conciliar a vida com os filhos  e com a profissional, a cantora enfrentou o esgotamento físico.

A cena eletrônica não fica de fora. De acordo com pesquisa realizada pelo portal britânico Pirate.com em 2021 sobre o tema, 66% dos DJs pesquisados relataram já ter sofrido Burnout pelo menos uma vez na vida. 

A “correria” entre os DJs é comum. Com jornadas desgastantes, viagens com pouco ou nenhum momento para descanso e horários de trabalho que fogem ao comum, profissionais da cena eletrônica estão cada vez mais esgotados. 

“Quando começou comigo, eu, também, não sabia até ser alertado por amigos e posso afirmar o quanto o esgotamento físico e mental são terríveis para qualquer profissional. Você se sente desmotivado ao ponto de querer desistir da sua arte.” DJ Diego Baez.

Para DJs em início de carreira, além da jornada cansativa comum a todos os profissionais, ainda há a preocupação com o dinheiro. A pressão financeira foi apontada como o principal motivo do esgotamento dos DJs. 85% dos entrevistados pelo Pirate.com relataram acumular vários trabalhos simultaneamente para conseguir viver da sua arte.

O ritmo é insano, as expectativas são altas e a cobrança ainda maior. Mas não somos máquinas, o corpo precisa de descanso. O excesso de trabalho somado à falta de sono reduz a concentração, a criatividade, a energia e pode levar a um colapso. 

Quando chegamos ao nosso limite, somos forçados a parar. O corpo grita e a conta vem. Não dá pra só acelerar, a gente precisa aprender a pausar e se cuidar.

O psiquiatra André Gordilho explica que a principal característica do Burnout é que ele está diretamente associado ao ambiente de trabalho, e esse ambiente de trabalho é o fator principal da causa do desenvolvimento dos sintomas.

Se você estiver sentindo os sintomas que podem indicar o esgotamento, vale repensar a sua relação com o trabalho e ajustar a gestão do seu tempo e prioridades, para deixar a carga de trabalho mais leve. 

Acima de tudo, procure apoio profissional de um especialista na área, pode ser um psicólogo ou psiquiatra, para um diagnóstico e tratamento adequado. Aplicativos como Telavita, Vittude e Zenclub são opções digitais e de baixo custo.

Não espere o pior acontecer para agir, peça ajuda. Quanto mais cedo melhor. A maioria das pessoas demoram em pedir ajuda por receio de perder emprego ou por vergonha. ”Infelizmente, ainda é um tabu pedir licença por esgotamento psicológico e, por isso, muitos chegam na consulta no limite”, afirma o psiquiatra Leonardo Rodrigues.

Aceitar que algo está acontecendo, é o primeiro passo. O nosso corpo dá sinais, precisamos escutá-lo. Exaustão, tensão constante e dores no corpo estão entre sintomas iniciais. Não é normal sentir dor, o normal é estarmos bem.

Que tal tirar um tempo hoje pra ficar off e apenas descansar? De quebra vale refletir, repensar e se fizer sentido, recalcular a rota. Por quê não?

Experimenta estabelecer os seus limites e respeitá-los, para que os demais os respeitem também. Dizer não para o outro pode significar dizer sim para você e para a sua saúde. Você é a sua maior prioridade, certo?

Cuida do físico, mas não esquece do emocional. Afinal, mente sã, corpo são.

Em Break my Soul, Beyoncé afirma: “você não vai quebrar a minha alma”, contestando o caráter predatório e extenuante do trabalho e nos convida a ressignificar as nossas escolhas, as nossas motivações e a retomar o nosso bem-estar.

Fazer menos para fazer melhor e viver, além de apenas sobreviver. 

É como Queen B diz na música:

“Liberte sua raiva, liberte sua mente. Liberte seu trabalho, liberte seu tempo. Liberte seu negócio, liberte seu estresse. Liberte seu amor, esqueça o resto”

Não deixe a sua alma quebrar, liberte-se.

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