Algo incerto no novo mural do Ricardo.
Algo fora do lugar, torto, desencaixado.
Algo faltoso, complexo, sem nome dado.
Algo infeliz, descolorido, desmotivado.
E num desatino descabido, o destino.
Um desconhecido aproximado miudinho.
Mas de presença grande até no figurino.
Um short curto, um corpete, o bigodinho.
Trazia uma coroa na cabeça e o sorriso.
Botas de salto alto, elegante, destemido.
Encostado no mural, na tinta, nada tímido.
Era sua pele, sua verdade, sua libido.
Então ele falou, era Dani a sua graça.
Novo na praça e na boaça.
Dani sem artigos definidos, na raça.
Tudo que a alegria escolhe e abraça.
De repente, para Ricardo um novo sentido.
Para o medo e a tristeza, um outro caminho.
Para as latas do grafite, um real motivo.
Para o triste cimento, um arco-íris colorido.
Ricardo e Dani, o nascimento do indivíduo.
O coração, a liberdade, o eu-lírico.
O amor longe de qualquer normatividade.
A coroa, o orgulho e claro… A felicidade.