COLUNA | A liberdade politicamente autoexpressiva da não binariedade

おかしいですね? Diferente, peculiar, não é? O título, e não apenas o mesmo, mas como isso ronda a travestilidade politicamente falando…

Deixe eu te explicar, uma travesty é uma existência livre, mas é uma existência feminina. Ancestral e feminina. Mesmo não obrigatoriamente dependendo da mulheridade, a travestilidade cai em armadilhas tecnológicas machistas, assim como na mulheridade e transfeminilidade. Aquele papo, por exemplo, quando um macho travequeiro começa já chamando o corpo interessado de amor para conseguir a consumação do sexo, mas logo após, descarta afetivamente tal corpo é um exemplo pelo qual todas as feminilidades e existências femininas passam.

E, por mais chato que isso soe, pelos menos para mim, a interpretação alheia (majoritariamente cisgênera) sobre uma travesty é uma interpretação não binária: 

“Parece homem, mas não se veste como homem; se veste de forma estranha/de forma feminina, (não) tem barba, e/mas tem traços faciais masculinos, o que seria isso, homem ou mulher?”

E pessoas que se consideram não binárias também são interpretadas/encaixotadas dessa forma. Travesty, ao meu ver, é obrigatoriamente não binária apenas politicamente. Contudo, como identidades não devem ser criadas para fins políticos, mas para fins existenciais, espirituais, ocorre esse mal entendido. Não apenas por isso, mas, como eu mesma acabei de conversar com a minha psicóloga, a “preguiça” que a cisgeneridade tem de entender o que não lhe representa também é responsável por essa interpretação.

Algumas existências femininas ou até mulheres trans são influenciadas na escolha de processos cirúrgicos modificadores por conta também dessa preguiça. Não principalmente (pelo menos não deve ser o motivo principal), mas tem grande influência mesmo assim.

Há, de certa forma, restrições, mas elas normalmente não vêm de dentro, mas sim, de fora. Até a famosa “disforia de gênero”, que virou até tema entre pessoas T, é uma restrição que vem de fora, seja ela embutida pela sociedade ou não, não é algo que se entende naturalmente do ser humano. Portanto se associa a um CID, um código de identificação de doenças.

Cal (personagem da Série Sex Education - Netflix) e Kukua. Foto: Divulgação/Kukua Dada.

A liberdade autoexpressiva pertence e existe à não binariedade e à travestilidade por conta da naturalidade na qual as existências se expressam e se expandem. Como por exemplo, o personagem que aparece na terceira temporada da série Sex Education, que se identifica como e tem um costume não binário, Cal. A liberdade com a qual Cal se expressa reflete não apenas a personalidade, mas a própria existência dele.

Ser não binárie, ser trans, ser travesty não é doença, é peculiaridade existencial. Significa que responsabilidades espirituais outras cairão sobre tais existências. Não significa sofrer, penar. Contudo, por conta da liberdade já mencionada, a resposta da sociedade para com essas existências dissidentes se torna algo agressivo, isolante, deturpante às mesmas. A ponto de criarem CID para encaixotar politicamente tal liberdade autoexpressiva.

Mesmo que existam essas condenações e encaixotamentos, a naturalidade de existências dissidentes não precisa ser corrompida por conta de preguiça provinda da cisgeneridade, CIDs, tecnologias marginalizantes quaisquer. O foco da liberdade existencial supracitada é a transformação da própria vivência de si em um caminho de felicidade. Como diria o personagem Cal: “Maybe try just being Jackson Marchetti just for a bit?” Talvez só tente ser Jackson Marchetti pelo menos um pouco? (Jackson Marchetti é o personagem com quem ele fala nesse trecho; trecho com o significado de você mesmo).

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