Prazer em sua totalidade raramente é alcançado num rito sexual, ou seja, numa foda. O que antes era a busca por uma energia pura que conectava partes íntimas dianteiras e traseiras com intuitos de afetividade mais profundas, que geravam prazeres únicos, mútuos e duradouros, virou uma caça por uma simples ejaculação (normalmente individual), que sustenta uma necessidade apenas fisiológico-hormonal.
Entender o que o prazer é e como alcançá-lo faz parte também de uma descoberta egóica que reflete finalmente em como recebemos e damos prazer. A conexão das partes íntimas, na verdade, a pura prática da intimidade por si só (independente de quaisquer tipos de penetrações) é a prova mais material possível do afeto.
Talvez por isso em sua deturpação/desconstrução, o início de um pensamento coletivo de possessividade se instaura subconscientemente quando se ouve/lê o termo relacionamento.
Relacionar é a POSSIBILIDADE de um afeto como também a possibilidade de um desafeto. Quando eu, Kukua Dada, fui espancada por traficantes que desconfiaram que eu fosse informante de outra quebrada porque eu era trans e porque eu não circulava por lá mais, eu percebi que os socos, tapas, tabefes, investidas de arma em minha face eram formas também de relacionamento. Da relação do agressor com seu próprio templo (corpo) e com o templo alheio, no caso o meu. Da forma de afeto que ele subentende como efetivo num diálogo ou inquisição. Foi um afeto bruto/intenso (desafeto) que criou um vínculo de agressor e agredida.
Afeto esse que vira prática, como por exemplo o sadomasoquismo. Sadismo é o afeto pela dor alheia num contexto sexual. Masoquismo é o afeto pela dor provida (num contexto sexual também) e a formação desse vínculo entre o agressor e quem agride, que efetivamente é um tipo de relacionamento.
Por conta desses tópicos acima, os arquétipos Touro-Escorpião se vinculam como opostos complementares. A busca incessante do prazer como prova material de afeto. E a desconstrução desse afeto para uma busca incessante de prazeres (múltiplos e transcendentais).
O entendimento do autoprazer foge dessa vertente e do cor desses arquétipos. Porém se entendido como forma primária de alcance de um autoentendimento toda forma de autoprazer se torna não, só válida, como indispensável.
A relação dos arquétipos de Áries e Escorpião, ambos ligados à energia marcial/de Marte tem certa inconjunção devido à diferença do autoprazer (normalmente egoísta) e da desconstrução afetiva (normalmente egóica). Por refletirem em questões do ego específicas e similares porém dissidentes, essa incongruência de energia ocorre.
Contudo, entendendo que o autoprazer não nega a desconstrução do afeto para ressurreição do prazer corporal, ou seja, descoberta de prazeres outros ou ressensibilidade prazerosa (quando se sente prazer diferente num lugar de comum toque) é possível a ressignificação de ambos, prazer e afeto, de um ponto de vista individual.
O autoprazer, de um ponto de vista individual, se alcança primeiramente com paz de espírito (kuidado da espiritualidade traz isso) e, principalmente e não menos importantemente, com a autovalorização.