REVELAÇÃO | De Maracanaú para o mundo

Conheça o jovem negro, da comunidade LGBTQIA+, periférico: Benjamin Arquelano.

Barco a vela navegando na água

Descrição gerada automaticamente
Arte e fotografia por: @darwinmarinho.

“…o remix de “Manancial” do Diante do Trono foi uma das minhas principais referências de música eletrônica na minha infância.” Benjamin Arquelano.

Ele que trilhou o seu caminho através do eletrônico radiofônico à aclamação da crítica ao seu EP autoral, “O Ponto”.

Confira agora a nossa entrevista especial com Arquelano Benjamin:

Soubemos que você teve diversas influências na música eletrônica. Quais foram as mais expressivas, desde seus primeiros contatos na infância e/ou juventude?

A música eletrônica sempre me atravessou muito. Ter nascido na metade dos anos 90, bem no meio do processo de abertura do país ao neoliberalismo, foi um fator importante para essa construção. Nasci em um lar evangélico/protestante e isso acabou limitando muito o que eu podia ouvir, pois uma das regras daqui de casa era que não se podia ouvir a tal “música do mundo”, e adivinha onde a música eletrônica estava enquadrada?

Então o meu principal escape para ouvir outras coisas além de música gospel era através do rádio, que naquele período era dominado por artistas gringas como a Britney, Madonna, Kylie Minogue, Michael Jackson e outros. Também tinha um CD de relaxamento (que a minha mãe ganhou em uma loja de departamento) que basicamente só tinha músicas da Enya, e eu ouvia assim muito.

E pode soar engraçado, mas o remix de “Manancial” do Diante do Trono foi uma das minhas principais referências de música eletrônica na minha infância. Eu realmente era obcecado por aquele remix. Também tinha as trilhas sonoras de Malhação e lembro que também fui muito obcecado por “Satisfaction” do Benny Benassi. As sensações que essas músicas me traziam é algo que tento buscar nas minhas, mas olha, ainda não cheguei nem perto de desenvolver algo como aquelas sensações.

No início de sua carreira, estas influências tornaram-se uma possível referência lapidada pelas ferramentas da MPB, do Pop, R&B e Soul com o nascimento de ‘O Ponto’ – seu primeiro EP, em 2019. Como se deu este processo?

O conceito de “ponto” nasceu em uma aula de Teoria da Imagem (ainda no período em que cursava jornalismo) onde se discutia Kandinsky e a teoria sobre o ponto e a linha: o ponto como o primeiro elemento da imagem. Partindo disso, tomei o ponto como o início e fim, de onde surgem e que também marca o fim das coisas. Então explorei a dualidade desse elemento nas composições deste trabalho, que partem da poética da minha vivência como jovem negro, LGBTQIA+ e periférico.

E acho que as principais influências partiram de artistas como James Blake e Björk. James Blake pelo minimalismo sonoro e Björk pela linha temporal que construí nesse EP, assim como ela fez em “Vulnicura”. Muitos outros artistas também me atravessam de certa maneira em tudo que construí e é realmente difícil para mim dissecar de onde vem cada referência.

Homem no escuro

Descrição gerada automaticamente
Foto de @eduadro, beauty por @monstrava.

Seu trabalho foi considerado como sendo um dos lançamentos mais bacanas do ano por parte da crítica brasileira, além de aclamado na Semana da Música Eletrônica de São Paulo de 2019. Como você lidava com essa falta oportunidade e/ou valorização da figura do artista eletrônico, negro, LGBTQIA+ dentro da cena nordestina?

Gostaria muito de dizer que eu lidava, mas eu ainda lido fortemente com a falta de oportunidades no Ceará. Apesar de já ter tocado em São Paulo, a quarentena, em certo sentido, começou mais cedo para mim, pois a última vez que me apresentei de forma presencial foi em janeiro deste ano e só foi possível porque eu mesmo produzi esse evento. Que foi uma experiência extremamente cansativa. E é assim que lido com a ausência de oportunidades, criando as minhas próprias.

Ainda não temos um mercado que abrange bem essas manifestações de cunho mais eletrônico e experimental. Mas aos poucos a nova cena eletrônica nordestina vai se organizando e se tornando mais relevante, e fortalecendo atores sociais que por muito tempo estiveram às margens da sociedade.

Você já tocou em algumas gigs e festivais bem relevantes da cena LGBTQIA+ fora do Nordeste, além de outras tantas apresentações preciosas nos rolezinhos da sua cidade. Fale um pouco, em especial, de pelo menos duas experiências que você já as tenha guardado no coração.

Cada show é aquela experiência, aquele aprendizado. Mas, sem dúvidas, dois shows que me marcaram bastante foram a da audição para o Laboratório de Música do Porto Iracema das Artes e o show no Centro Cultural Olido, dentro da programação da Semana da Música Eletrônica de São Paulo.

A audição, por ter sido o segundo show da minha vida e ter representado a última etapa de um processo que rendeu uma das experiências mais importantes da minha carreira artística. E o show em São Paulo, pois estava abrindo para o L_cio (artista que admiro muito) e pela emoção do primeiro show fora do Ceará, e por ter sido tão bem recebido por lá.

Homem segurando um microfone Descrição gerada automaticamente
Fotos de Victor Takayama e figurino de Heitor Chaves.

E diante dessa pandemia, qual a visão do artista Arquelano – a partir de agora – para a cena de música eletrônica nacional? O formato LIVE veio para fortalecer esse mecanismo de alcance e alarde cultural ou deve descansar um pouco em breve?

Acredito que esse formato irá permanecer e com cada vez mais força. A pandemia acelerou muito esse processo, pois muitos coletivos já vinham experimentando transmitir os seus eventos de forma online e muitos outros caminhavam para isso. Um bom exemplo são as famosas transmissões do Boiler Room. Então acredito que serão desenvolvidos cada vez mais modelos de negócios, articulando experiências online e offline.

E o que podemos esperar de novidades musicais do Arquelano para os próximos meses e em 2021?

Depois da experiência em São Paulo, tive o prazer de trabalhar com o L_cio no remix de “Salão das Ilusões”, que era para ter sido lançado originalmente em maio deste ano na edição da Capslock em Fortaleza, que infelizmente teve de ser cancelado por conta da pandemia. Mas em breve esse remix chega. E também vem novas músicas por aí e posso dizer que elas estão mais próximas da pista de dança, com influências mais explícitas de House e Techno.

Confira agora o novo EP deste grande artista
https://tratore.com.br/smartlink/arquelano.

COMPARTILHE: