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OPINIÃO | “Mas não é sempre o fim”

A travestilidade em si é um fluxo de idas e vindas, às vezes sem objetivos elucidados por conta de, também, evitamentos e rechaços. 

Danna Lisboa, uma travesty preta paulista em sua finalização do ciclo de seus dois últimos EPs (Extended Plays) já lançados: “Fluxo Reverso”, mostra bem, de forma poética até, as nuances dessa travestilidade mencionada.

“Quando eu penso em evitar, me pergunto aonde ir” esse é um trecho que já denota a fluidez que traduz o nome da própria canção: em sua vida própria, e também na vida de muitas outras travestys pretas, as oportunidades de se manter ou até mesmo acessar tal lugar são totalmente escassas.

“Corroer de dor, risos de ferir”, já esse trecho fala sobre a penosidade que toda travesty preta passa por ser travesty e apenas isso, o que denota em diversos tipos de dores, até emocionais (ligadas ou não a relacionamentos afetivos), além da transfobia recreativa que ocorre em diversos meios e diversas formas até hoje pela cisgeneridade: rua, internet e, infelizmente também, até na casa da travesty.

“Em outros me envolvo; paralelo, de duplo sentido; fluxo. Indo e vindo”. Além de remeter, também, à ancestralidade afrikana, com o entendimento que a vida são conjuntos e emaranhados de fluxos intermináveis de ligações, conexões e relacionamentos, a artista, Danna Lisboa, traduz que a própria travestilidade como vida são estadias temporárias em muitos e em poucos lugares ao mesmo tempo. Como se mesmo que se abram as portas para a artista, não exista um sentimento de bem-vinda: a travestilidade como trânsito e contínua evolução.

“Moro nos outros, morro em todos.”. “Pois mesmo tudo mudo, muda e tudo.”. Nesses dois refrões principais da canção, a artista aprofunda obviamente esse significado de vida, também ressignificando a tal penosidade supracitada. Morar em todos remete a esse fluxo de estar com muitos, mas quase confiar em ninguém, o que é comum da travestilidade. Morrer em todos significa, o possível renascimento no qual Danna passou a partir de todos os “nãos” que recebeu da vida em diversos momentos. Uma vez que tudo muda, mesmo quando não se há debate, mesmo quando se está mudo e, reconhecendo tais mudanças, a cantora reflete, finalmente, no “tudo”, que é o alicerce de sua vida.

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