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ENTREVISTA | A conquista de mercado e a influência da produção musical na carreira, por Enrry Senna!

Nascido em Conselheiro Lafaiete-MG, Brasil, ENRRY SENNA pertence a uma escola de artistas nacionais que todos, ou, ao menos os profissionais e interessados na house music nacional, fatalmente devem conhecer. Quando o assunto é house music, seu nome se faz presente nas pistas de dança há décadas e, com certeza, você já dançou ao som de alguns dos seus vários remixes.

“Sempre me inspirei em grandes nomes do circuito como Offer Nissim, Peter Rauhofer e Rosabel que são alguns dos precursores do Tribal House que escutamos hoje nas pistas.” Enrry Senna

Com uma proposta de som progressivo e bastante peculiar, ENRRY SENNA produziu remixes para artistas renomados do cenário pop e eletrônico, nacional e internacional e alguns deles são: “Cansei de Ser Sexy”, Deborah Cooper, Emeli Sandé, Jose Spinnin, Selena Gomez e Tony Moran. O produtor conta com o apoio de inúmeros artistas do circuito eletrônico mundial, tais como: Altar, E-Thunder, Elias Rojas, Offer Nissim, Peter Rauhofer, Rosabel, entre outras muitas figuras icônicas que executam sua música mundo afora.

Atualmente, residente do club The Week, considerado o maior club LGBTQIA+ da América Latina, ele coleciona apresentações em diversos clubs, festas e os maiores festivais de música LGBTQIA+ do mundo, como: BABEL CLUB (MÉXICO), CONSTRUCTION (PORTUGAL), GIBUS CLUB (FRANÇA), H.I.M (COREIA DO SUL), KITSCH PARTY by SCRUFF (SUÍÇA), PAPA (CHINA), SELVA (CHILE) e SONGKRAN (TAILÂNDIA).

Confira agora a entrevista especial que fizemos com o DJ Enrry Senna:

Como surgiu o seu interesse pela música?

Eu venho de uma família que sempre foi muito ligada à música profissionalmente e, como o dia-a-dia de muitos ao meu redor era voltado para o que hoje eu tenho como profissão, eu posso afirmar que cresci sob a influência de muitas pessoas que fizeram despertar esse sentimento em mim.

Por volta dos 8 anos de idade eu já escutava músicas de cantoras como Celine Dion, Toni Braxton e Barbra Streisand e, sendo uma criança com tanto gosto por música, passei muitas tardes ligadas no rádio e gravando tudo que eu gostava e conseguia(risos). E foi assim que eu comecei a formar meu gosto musical: um dos pilares foi sem dúvida essa influência que eu tive dentro de casa.

Como foram os primórdios da carreira como DJ até se tornar produtor musical?

Eu sempre fui uma pessoa com um gosto musical muito aflorado, desde muito jovem eu tenho um grande apreço pela noite. Com 16/17 anos eu já frequentava algumas festas de música eletrônica LGBTQIA+ na cidade de Belo Horizonte-MG e o ambiente dos clubs, a maneira como eu via os DJs conduzirem a pista, sempre me chamaram muita atenção. Tudo isso aliado à minha pesquisa de material, que já vinha desde a infância, foram os responsáveis por me dar uma base do que eu gostaria de ser, o que o Enrry gostaria de tocar – SIM, para quem não sabe, meu primeiro nome na cena foi ENRRY -, e foi quando surgiu uma balada aqui em Conselheiro Lafaiete-MG, no ano de 2004. Eu me ofereci a mostrar minha pesquisa musical e, com a ajuda indispensável de um amigo chamado Leo Souza, tive meu primeiro contato com os decks e a pista dança, que deram super certo.

Fui contratado e, paralelamente nesses primórdios da minha carreira como DJ, eu já me interessava pela produção musical. Como na época não tínhamos a facilidade que o “pai youtube” proporciona hoje, eu participava de diversos fóruns de discussão sobre produção, leituras de materiais em PDF disponibilizados nesses fóruns e muita pesquisa. Tanto o Enrry DJ como o Enrry produtor surgiram coincidentemente num mesmo espaço de tempo, enquanto eu percebia essa minha inquietude de saber como e onde os produtores tiravam aqueles sons, entender como eram construídas as músicas que eu tocava, eu buscava aprender como eu poderia usar aquele conhecimento ao meu favor.

Quais são suas referências na produção musical e como foram suas reações ao ver grandes nomes da cena executando seu trabalho?

Sempre me inspirei em grandes nomes do circuito como Offer Nissim, Peter Rauhofer e Rosabel que são alguns dos precursores do Tribal House que escutamos hoje nas pistas. Já quando eu vi esses nomes começaram a tocar minhas músicas, bem, essa é coisa muito difícil de falar porque à primeira impressão, eu não imaginava que aquelas músicas tomariam a proporção que tiveram e têm até hoje. É um misto de muita felicidade com uma imensa gratidão porque foi aí eu tive a certeza de que eu estava caminhando pra um lado certo, seguindo um padrão do que eles mesmos produziam, e vejo regularmente alguns dos grandes tocarem músicas que eu fiz há mais de 10 anos.

Este marco atemporal que a produção musical do DJ pode fazer nas músicas e, principalmente, nas pistas é algo impagável. É muito gratificante ver centenas, às vezes milhares de pessoas, vibrando ao som de uma música sua, vão se passar décadas e o sentimento de gratidão que eu tenho por determinadas músicas minhas serão ainda maiores.

Por ser um DJ tão cobiçado pelo público e diante dessa demanda, quais são as maiores dificuldades que você encontrou ao conseguir se posicionar no mercado?

Quando eu comecei, não tínhamos uma cena com tantos DJs como hoje em dia, e fatos muito importantes são que, naquele tempo, por ser uma profissão muito restrita e a figura do DJ não ser tão reconhecida como é hoje em dia, esse mundo não atraia tantas pessoas.

Dificuldades sempre existirão para o artista independente, como é o caso de nós DJ’s produtores, e uma das principais foram a falta de tecnologia na época e residir no interior. Quando eu comecei a produzir muitos materiais eram em outros idiomas e não tínhamos acesso a tantas facilidades, isso sem dúvida foi um grande desafio. Embora o reconhecimento por conta das músicas tenha me garantido um certo status, assim como muitos companheiros de profissão, eu também tive de me mudar para o meu trabalho adentrar no circuito mundial.

“…crises como essa vem para que possamos ressignificar diversos valores da nossa essência e nos tornarmos pessoas cada vez melhores e mais empáticas.” Enrry Senna

Como tem sido lidar com a crise do setor de entretenimento causada pela pandemia? E quais mudanças você acredita que isso trará?

Infelizmente, ainda não conseguimos lidar com todas as mudanças. Em virtude das normas de saúde pública, fomos vetados de trabalhar e como a renda da maioria de nós DJs e produtores depende exclusivamente desse ofício, tem sido bem difícil lidar com tudo o que tem acontecido. Durante a quarentena cheguei a fazer algumas lives caseiras, as quais não obtive retorno financeiro e, com isso, eu decidi apenas manter meu ritmo de produção musical para o tão aguardado retorno das nossas atividades. Os últimos meses têm sido verdadeiros momentos de grande tensão, vindo à tona além dos problemas financeiros, a ansiedade causada por tantas incertezas. Eu acredito na mudança do ser humano e que tudo que vem acontecendo tem um propósito e compartilho do ponto de vista que crises como essa vem para que possamos ressignificar diversos valores da nossa essência e nos tornarmos pessoas cada vez melhores e mais empáticas.

“…sobre “festas clandestinas”, eu desejo que as pessoas reflitam mais a respeito das atitudes que tomam ao compactuar com fatos como este.” Enrry Senna

Diante de sua perspectiva sobre retorno das atividades do setor de entretenimento, qual conselho você dá aos seus fãs e aos companheiros de profissão?

As minhas perspectivas nesse momento vêm dos meus desejos e sonhos. Desde o início, sempre desejei que as pessoas fossem pacientes e não tomassem atitudes desprovidas de senso crítico. Não cabe a mim julgar certas atitudes porque cada um sente quando seu sapato aperta, mas, diante dos registros que vemos frequentemente nas redes sociais sobre “festas clandestinas”, eu desejo que as pessoas reflitam mais a respeito das atitudes que tomam ao compactuar com fatos como este. Quando infringimos normas de saúde pública que foram impostas mundialmente a fim de conter o avanço da doença, estamos indo na contramão da ciência, dificultando o controle da disseminação do vírus e, consequentemente, prejudicando a normalização das atividades legais de diversos setores como é o caso do entretenimento.

Aos amigos, fãs e companheiros de profissão, me resta agradecer, agradecer aos amigos que tem seguido o isolamento à risca, a fim de se protegerem e contribuírem com a ciência, agradecer pelo grande apoio ao meu trabalho como produtor que recebi nos últimos remixes, espero que todos estejam bem pra matarmos a saudade quando tudo se normalizar, e vale ressaltar aqui que esse não este não é o fim. Apesar de todos os contratempos, os meses de quarentena têm sido favoráveis. Estou me preparando para muito em breve lançar um EP de músicas que conta com diversas parcerias as quais tenho certeza que vocês irão amar. BJS e até breve pessoal!

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