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ENTREVISTA | Groove House do Brasil tem nome e chama-se ELIAS ROJAS!

Foto divulgação

Um gênero de música eletrônica que foi carinhosamente – há quem discorde – apelidado de “Tribal House” hoje é conhecido mundo afora como “Groove House” e, dentre os diversos artistas brasileiros que possuem uma extensa bagagem dessa sonoridade, escolhemos um que é muitíssimo querido e conhecido nas festas LGBTQIA+, ELIAS ROJAS!

O cara é DJ, produtor musical, advogado e pesquisador na área de Filosofia Política e Moral; por essas quatros delegações, devemos pressupor que esta seja uma pessoa um tanto criteriosa, né?

Elias é um dos produtores musicais brasileiros que coleciona dezenas de suas músicas assinadas por labels de grande relevância para o mercado da música eletrônica mundial, tais como Tommy Boy, Juicy Music (Armada Music), PoolEMusic (Congos Records), NewLight Records, Bearlin Records e Freak StarZ Records, portanto, é sem dúvida um carro chefe quando o assunto é Groove / Tribal House BRASILEIRO. Um dos maiores episódios de sua carreira como produtor foi o lançamento de seu EP “Primitiva” pela gravadora Xumba Recordings (label que alcançou o topo de vendas do gênero FUNKY/GROOVE/JACKIN ‘HOUSE no Beatport).

Paraense, atualmente residindo em São Paulo, começou sua carreira aos quinze anos assumindo sua primeira residência como DJ em uma festa Matinê da Rádio Jovem Pan, chamada Barrados no Baile (Belém/PA). Ao longo dos quatorze anos de carreira, Elias se apresentou nos quatro cantos do país, em grandes clubs e festas como Aloka Club (SP), Bubu Lounge (SP), Disel (GO), The Club (SP), Tunnel (SP), Weekend Club (SP), Tic Tac (SP), Magic (SP), Cremagia (SP), Halloween-Erica Lins (GO), considerada a maior festa do Centro Oeste brasileiro, entre outros diversos selos. Além do extenso currículo de Gigs, trabalhou como produtor musical ao lado de vários artistas nacionais e internacionais de realce mundial como: Altar, Cajjmere Wray, Jeanie Tracy, Joelapussy, Jose Spinnin, Las Bibas de Vizcaya, Lula, Maya Karunna, Razor N Guido e Robbie Rivera.

“…acho que se você está inserido num mercado, tem que segui-lo, mas não pode deixar com que o mercado lhe domine e dite o que deve ou não ser feito.” Elias Rojas

E agora, quatro perguntas pra gente conhecer um pouco mais do que esse GRANDE pensa!

Qual a maior dificuldade que você encontrou para se posicionar no mercado?

A maior dificuldade que enfrentei ao me posicionar no mercado foi quando eu resolvi vir para São Paulo em 2014, ao mostrar que aquilo que eu defendo musicalmente falando, um som diferente, de ter uma identidade, não seguir uma linha mercadológica, porque funciona, claro, novamente, não vou dizer pra um DJ ser o “diferentão” não, acho que se você está inserido num mercado, tem que segui-lo, mas não pode deixar com que o mercado lhe domine e dite o que deve ou não ser feito.

Acredito que tem sim, como conciliar a sua identidade musical, a sua perspectiva com o mercado. Naquele momento, em 2014, funcionou muito pra mim, tive a oportunidade, graças a essa confiança no meu trabalho, de rodar o Brasil mostrando o meu trabalho. As pessoas pediam pra ouvir o meu som e, quando a pista pede pra você uma música da sua autoria é algo gigantesco, porque é muito mais fácil um DJ chegar pra você e pedir: Ah, toca a sua versão, toca isso, toca aquilo, mas quando você escuta da pista, é demais.

Em 2015, quando toquei no aniversário do Leandro Ribeiro, na extinta boate Diesel, em Goiânia, eram mais ou menos 3:00am quando comecei meu set e durante o percurso até a cabine, surgiu uma pessoa da pista (público), com uma lista das minhas músicas, aquilo me deixou muito chocado, muito mais ainda, porque eram músicas originais, não eram remixes, entende? Porque quando você faz um remix de divas (se assim posso chamá-las), é muito mais fácil da pessoa ter acesso, porque ela já é fã de um material de proporções gigantescas, mas quando é uma música original sua, nossa, é inexplicável! Nesse dia, toquei até às 9:00am, foi um long set de muito valor para mim, foi uma experiência muito impactante.

A dificuldade que tive, eu sei que vou enfrentá-la novamente, por estar retornando como DJ e Produtor em SP em 2021, justamente por chegar com uma sonoridade diferente e com a minha identidade musical e tentar mostrar mais uma vez que pode ser, pode funcionar, porque a pista precisa de algo diferente. Consumir só aquilo que já existe? Chega! Uma hora que cansa. Acho que o diferente tá aí pra isso, justamente, para colocar um outro sentido, um outro gosto na pista de dança…

Como foram as suas reações ao ver seu trabalho sendo tocado por grandes nomes e “A imersão no meio deles”?

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Compartilhar com eles essa experiência, no começo, foi espantoso, porque é o que eu digo pra todos os meus amigos, no início de tudo, o sonho que eu tinha e até hoje ainda é o meu maior sonho que consegui realizar: era produzir algo que fizesse alguém dançar, que deixasse alguém feliz, entende? Que aquela música fizesse a diferença na noite da pessoa !

E, felizmente, consegui isso há muitos anos e disse: o que vier daqui pra frente é lucro, sabe? Mas mesmo assim, claro, não diminuindo as minhas outras conquistas que vieram após isso, porque foram graças a muito esforço. Ver esses grandes nomes me dando o suporte, tanto do Brasil, quanto fora, tocarem as músicas, me chamarem pra remixes, assinar contratos com gravadoras gigantescas, isso é monstruoso, porque é um impacto que, de primeira, você não acredita.

E mesmo quando é lançado no streaming ou numa loja digital, não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo, porque é algo que eu almejava muito ao ponto de falar: não, isso aqui é improvável, é impossível, mas quando você menos espera, tá acontecendo.

A pessoa gosta do seu som, gosta da identidade musical e ela ali, naquele momento, faz uma aposta nisso. E isso é muito bom. E estar no meio deles é maior ainda. Tive oportunidade de trabalhar com o Robbie Rivera em algumas faixas. Também tive oportunidade de trabalhar com um gigante daqui do Brasil, como Altar, que pra mim, dos projetos da Tribal House, são os maiores, e isso é indiscutível. Penso que eles são os maiores influenciadores musicais que nós poderíamos ter e, sem dúvida, são os melhores, a maior referência que poderíamos ter.

E, cara, trabalhar com essas pessoas, hoje, pra mim, é um regozijo muito grande. Eu não teria nem como conseguir, na verdade, explicar o que é estar com eles e eles estarem comigo, compartilhando trabalhos, enfim, é maravilhoso.

“Criatividade é uma força da natureza que precisa ser exercida a qualquer momento, não tem como ser controlada.” – Elias Rojas

Fugindo um pouco do “Elias DJ” e adentrando ao seu lado Produtor. Qual a sua opinião sobre o cenário brasileiro?

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O cenário brasileiro musical é uma questão muito delicada e aqui  quero deixar bem claro que  não tenho nada contra nenhuma sonoridade, pelo contrário, acho que as pessoas tem que exercitar a sua sonoridade independente se “é mais do mesmo”, se é isso ou aquilo, se é meme, se não é.

Acredito que a criatividade é algo que não deve ter limite, não tem que ter mordaças, sabe? Criatividade é uma força da natureza que precisa ser exercida a qualquer momento, não tem como ser controlada. A criatividade é algo que flui naturalmente e ponto final.

Penso que o cenário brasileiro está bem saturado porque muitos produtores estão fazendo a mesma linha. Estão produzindo o mesmo material, o mesmo produto. Em consequência, como qualquer coisa na vida em exagero, chega ao momento que cansa, né?

O consumo da arte entre as gerações vai mudando muito, é cíclico, entende? E a gente tá num momento de informação. Uma aceleração de informações que não tem freio, além de ser difuso. Hoje, o consumo da música é muito mais frenético do que era há dois anos, há cinco anos. Hoje consumo uma música diferente do que consumia ontem. A informação causa isso, o acesso à informação muito mais.

Vejo que os produtores deveriam sim, pesquisar um pouquinho mais pra poder servir algo diferente, não é mudar o set, não é mudar a própria identidade musical, mas acho que é sair um pouquinho da zona de conforto, para poder servir um pouco melhor.

Acredito que devemos nos adaptar sim, pelo menos pra quem é, de fato, profissional e eu tenho certeza que existem vários no nosso cenário, o produtor musical ou DJ que é profissional, consegue se adaptar, ver uma sonoridade boa, ver um remix diferente, um original legal, sabe?

Produzir algo com timbre bacana, um timbre diferente, arriscar mais. Enquanto não houver essa pauta, não houver esse pensamento, continuará sendo cada um por si, entende? É assim que enxergo, é cada um por si, faz o seu e tudo bem. Não que isso esteja errado, que cada um faz aquilo que quer, cada um produz aquilo que se identifica, assim como sempre foi. E isso de: “cada um por si”, não julgo.

Percebo que tudo isso que citei são os fatores que contribuíram para que o cenário musical se tornasse muito cansativo, mais do mesmo, porém, existem várias de produtores que fazem a diferença, que produzem algo diferente ou até mesmo, alguns que estão produzindo “mais do mesmo”, estão fazendo uma sonoridade boa, uma sonoridade legal, essa é a minha análise!

“…se fulano fez remix de uma música que há tempos não é visitada, não faça ela, procure outra da mesma época com o mesmo apelo, saiba investir seu tempo e criatividade, seu estudo.” – Elias Rojas

Aquela última pergunta genérica: o que você “não aconselha” aos novos DJs e produtores que se inspiram no Elias?

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Na nossa cena, pelo menos é uma percepção que tenho, a sonoridade do Tribal House em si, está muito cansada, não por ser ruim, pelo contrário, se fosse isso eu não produziria tribal até hoje, mas vejo que a massa dos produtores tem trabalhado de uma mesma maneira, de uma mesma forma, usando uma mesma equação há muito tempo e é isso que se torna cansativo e desgastante.

E o que “não aconselho” aos novos produtores é seguirem essa maré. Não usem esse mesmo caminho, aconselharia também que pesquisem novas sonoridades, estudem bastante música, porque isso é necessário, mas aqui eu não estou falando: deve estudar a história da arte, a história da música, não. É bom ter o mínimo, saber o básico, entende? Você não precisa saber a história de Chopin. Não, pelo amor de Darwin. Estuda a esse nível quem quer, por questões particulares ou acadêmicas, mas enfim, é necessário ter o mínimo.

E aos DJs que se inspiram no meu trabalho, o que “não aconselharia” é não se inspirarem apenas no meu trabalho, mas buscarem outras referências, outras sonoridades e criem a sua própria identidade que é o mais importante de tudo, na minha perspectiva. Saber investir seu tempo, por exemplo: se fulano fez remix de uma música que há tempos não é visitada, não faça ela, procure outra da mesma época com o mesmo apelo, saiba investir seu tempo e criatividade, seu estudo.

Foque em criar a sua marca, sua identidade musical, ter seu próprio som, sabe? Usem os produtores que lhes inspiram e criem a sua arte, mas não criem as suas artes pautadas na identidade deles. Crie a sua arte pautada naquilo que  acredita.

Aqui listamos para vocês duas músicas e um set mixado do DJ e Produtor:

Elias Rojas – Primitiva (Original Mix)

Robbie Rivera feat. Linney – Stardust (Elias Rojas Remix)

Elias Rojas – The Real Drums (SET MIX)

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