COLUNA | A cena gay eletrônica pós pandemia

O ano de 2020 ficará marcado como um grande tombo na recente história da humanidade.

Para o mundo do entretenimento, principalmente para a pista de dança, foi um apocalipse. Milhares de casas noturnas ao redor do mundo permanecem fechadas por meses e este golpe duro impactou no planejamento de vida, nos sonhos e nos projetos tanto dos DJs, como dos produtores de música eletrônica e dos produtores de eventos. Entretanto, o movimento da vida noturna das boates e raves sempre proporcionaram mudanças comportamentais, mesmo em tempos turbulentos na sociedade.

Quando surgiram na década de 1970, as discotecas da cidade de Nova York ofereciam um lugar seguro para a visibilidade LGBTQIA+ e no fim dos anos 1980 as festas de Acid house trouxeram um toque de rebeldia e deu origem a um movimento musical inteiramente novo. Já no início da década de 1990, o techno alemão representou o movimento social da libertação após a queda do muro de Berlim. E por aí vai…

Antes da pandemia, estávamos em um momento de expansão cultural e musical da Cena Eletrônica Brasileira. Exportando atrações para todo o mundo, nossa musicalidade e a famosa “pegada” do Tribal Brasileiro se consagrava em todos os maiores festivais do mundo. Não é à toa que nossos DJs estavam lá presentes entre os headliners e ainda está difícil prever quantas mais mudanças sofreremos na vida noturna até que a vacina esteja pronta. 

A cultura que estávamos acostumados dos grandes festivais, levará um tempo para se re-estabilizar?

Para o DJ e produtor Tommy Love, as dificuldades financeiras surgidas como efeito pós-pandemia permearão todos os segmentos envolvidos em um evento, tanto os contratantes quanto os contratados. Mas o retorno, apesar de gradual, será intenso e positivo. Porem, o setor nunca vai se estabilizar com celeridade, enquanto festas clandestinas continuarem acontecendo sem a menor fiscalização.

O que de fato podemos afirmar é que essa pausa na carreira deu aos artistas uma oportunidade de se reinventar e criar novas sonoridades. Nos próximos meses poderemos ter uma variedade incrível de novas músicas. Estamos vivendo um novo tipo conexão com a vida noturna, com menos ostentação e mais experiências com curadorias e conexões autênticas. A criatividade tem sido o diferencial dos produtores de eventos e dos gestores dos clubs.

Tivemos a oportunidade de ver inúmeras possibilidades de novas experiências das quais a noite pode proporcionar e o streaming – a única ponte de comunicação entre os artistas da noite e seu público durante a pandemia – seja através das suas lives e de Digitais Shows, deverá continuar presente nas estratégias entre todos que fazem a cena eletrônica, uma vez que as barreiras e distâncias foram quebradas com a transmissão ao vivo dos eventos e apresentações dos DJs, mas é uma previsão comum a todos que, quando voltarmos a normalidade das interações sociais, estaremos com sede e mais voracidade do que nunca pela vida noturna.

Para o DJ e produtor Allan Natal, “A essência de cada cidade são os eventos, cultura e a vida noturna. Apesar de tantas incertezas eu acredito que poderão ter seu brilho e força como antes ou até serem mais valorizados após pandemia. A vida noturna não se resume somente a boates, mas são bares, restaurantes, teatros, cinemas, shows… São importantes conectores sociais e culturais, e emprega milhares de trabalhadores.” 

É difícil comparar estarmos dentro de um quarto sentado na frente de uma festa no Zoom, ou ao lado dos amigos em um espaço vibrante compartilhando alegrias, música e plenos da nossa liberdade. A esperança é que quando a pandemia for embora, a vida noturna será maior e mais vibrante do que antes.

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