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ENTREVISTA | Um furacão chamado Bia Marques

Uma imagem contendo pessoa, homem, jogador, água

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A DJ Bia Marques, conhecida no mundo Open Format, comercial ou alternativo, é referência para muitos profissionais da área, sejam eles novos ou até mesmo veteranos, nas noites cariocas.

Ela consegue hipnotizar qualquer pessoa com seu set harmônico e mixagem impecável, mas o que muitos não sabem é que, além de DJ, Bia também é Produtora de Eventos e professora de discotecagem.

“… já perdi jobs por não ser/estar num padrão ou por ser lésbica que não performa feminilidade.” Bia Marques.

E hoje, ela vai falar um pouco da sua experiência profissional e como concilia sua vida sendo uma profissional multifuncional. Confira:

Quando escutamos o seu nome logo assimilamos a arte de ser DJ, a músicas diferenciadas, a sets impecáveis e com muita qualidade, mas Bia Marques vai muito além de sua profissão. Como é pra você, mulher lésbica, trabalhar num nicho onde esse espaço que você ocupa é majoritariamente ocupado por DJs/produtores/professores homens?

Ah muito obrigada pelos elogios! Mas com sinceridade? É uma luta desde sempre hahahaha… Parece que por a gente ser mulher e principalmente sapatão, temos que ” mostrar serviço” e trabalharmos em triplo pra receber o “respeito” das pessoas no universo da noite. A gente pode acertar 20 vezes, mas naquela única vez errada vai ter uma pessoa pra apontar o dedo e essa pessoa, na maioria das vezes, vai ser um homem kkkk…

Você acredita que exista o preconceito na cena?

Acredito que exista preconceito sim, óbvio. Por isso que pra encarar esse universo majoritariamente masculino tive que me blindar de alguma forma e com isso acabei adquirindo a fama de “braba” por sempre estar muito séria ou de cara fechada nos eventos. Mas quem me conhece mesmo sabe o amor de pessoa que eu sou hahaha… Foi apenas uma forma que achei para conseguir respeito e mostrar que sou realmente boa no que faço.

Você já passou por algo que possa compartilhar?

Já sofri preconceito desde DJs homens querendo me ensinar o meu trabalho, até profissionais de som duvidando da minha capacidade de entender as coisas e querendo botar a mão em mixer ou CDJ achando que não sei ou já deduzindo que vou fazer errado. Sem contar os inúmeros jobs que já perdi por não ser/estar num padrão ou por ser lésbica que não performa feminilidade.

É mais comum termos um primeiro contato com a música através de aulas de músicas no colégio ou até mesmo um parente/amigo para ensinar algum instrumento, porém, ninguém nos ensina a tocar numa CDJ. Como se deu o início da sua trajetória como DJ?

Pior que na época da escola eu tinha aulas de música, sim, e sempre me sai muito bem (modéstia parte, pessoal) hahaha…, mas acho que o principal de tudo é que eu levava essas aulas de música incrivelmente a sério, elas até hoje foram muito úteis pra mim. Foi ali que eu tive o primeiro contato com o que seria um compasso, tempo de uma música, lidar com instrumentos, e etc., então eu guardo com muito carinho a lembrança dessas aulas. Um outro ponto da minha vida que sempre me ligou a música foi o fato do meu tio ser baterista e desde pequena ele me incentivava a tocar e lidar com a bateria ou, até mesmo, batucar as panelas da minha avó com colheres de pau hahaha… Então devo parte do meu amor pela música graças ao meu tio Robertinho.

Sempre foi um sonho seguir uma carreira na qual a música estivesse presente?

Meu início mesmo como DJ caiu de paraquedas no meu colo hahaha… Sempre amei música, mas nunca pensei que fosse trabalhar com isso, já que existia todo o preconceito da minha família com relação a trabalhar com música. “Trabalhar com música é coisa de vagabundo que não quer estudar” e “Se for músico vai morrer pobre” eram coisas que eu escutei constantemente da minha mãe no início, e ela não considerava como uma profissão séria, mas sim um hobby ou até mesmo que eu não estava indo para trabalhar, e sim ”farrear” segundo ela hahaha…

Acho que até eu não aceitava o fato de ser DJ como algo muito sério, talvez eu pensasse que poderia ser mais diversão do que trabalho pela forma como eu enxergava alguns DJs nas baladas. Acho que o início mesmo da minha trajetória como DJ se deu 2 anos depois de eu ter começado a frequentar a noite alternativa underground carioca. Eu já amava ouvir músicas, mas eu me encantei pelo fato de como os DJs conseguiam transacionar entre uma música e outra sem que o público percebesse.

A partir daí, fui começando a observar muito o que eles faziam, o movimento das mãos, ouvindo como cada música se encaixava de forma diferente e em cima disso fui querendo me aprofundar e estudar por conta própria o universo da discotecagem.

Lembrando da sua técnica que, além de incrível, é admirada por muitos produtores e DJs da área, como foi para você se profissionalizar como DJ?

Mais uma vez obrigada pelos elogios, gente, vou ficar sem graça hahahaha… A parte de me profissionalizar foi meio que na marra. Na época que eu estava focada em aprender e estudar tudo sobre o universo da noite, comecei a pesquisar cursos de discotecagem e me deparei com valores altíssimos e que eu não tinha condições de pagar, então foi a hora que o santo YouTube apareceu em minha vida. Comecei a jogar tudo o que eu queria saber nele e felizmente encontrei basicamente tudo. Então fui começando a perceber uma evolução à medida que eu ia vendo e aprendendo nos vídeos e quando eu chegava na balada eu já estava começando a entender o que os DJs faziam para conseguir mixar ou quais movimentos eram aqueles que eles estavam fazendo com as mãos.

Então desde sempre fui autodidata e fui me forçando aprender aos poucos. Com isso, comecei a chegar em alguns produtores de festa que eu já frequentava e pedia a oportunidade de fazer um set em alguma festa, que fosse no início ou no final, 15 minutos ou 1 hora de set. Eu queria realmente me arriscar porque estava sentindo que eu estava pronta e queria testar pra ver no que ia dar.

Quando o conhecimento é muito, há quem passe para frente. E foi assim que você fez! Quando e como foi o seu primeiro contato ao dar aulas de DJ? Sempre foi algo que você sonhou em fazer?

Depois de um determinado tempo, algumas pessoas, principalmente meninas, vinham me mandar mensagens tirando dúvidas ou até mesmo querendo saber se eu dava aulas particulares de discotecagem. De início, achei estranho e ficava me perguntando: como eu que aprendi tudo sozinha, poderia repassar isso pras pessoas de alguma forma? E foi mais ou menos nesse mesmo período que uma amiga produtora e diversas DJs brabas aqui do RJ decidimos botar de pé o projeto da Oficina das Minas, que veio a ser um curso de discotecagem acessível especificamente para mulheres que gostariam de aprender a tocar ou que já tinham alguma experiência e precisavam só de um empurrãozinho.

Foi uma experiência incrível porque fui uma das professoras e, nesse momento, eu percebi que eu realmente poderia passar esse conhecimento que eu adquiri e, principalmente, ter a troca que eu tive com as meninas ao longo do curso. Das professoras até as alunas, cada uma tinha uma vivência diferente de carreira e de vida, o que somou demais não só pro projeto, como pra minha vida também.

Estar reunida com diversas mulheres trocando experiências e conhecimento foi maravilhoso demais. A oficina acabou entrando como um hiato, acho que por falta principalmente de espaço e apoio para realizarmos as aulas. Como fazíamos a oficina com preços acessíveis – tipo 10 reais ou até mesmo de graça -, não tínhamos condições de pagar um espaço com a estrutura e equipamentos que era preciso para ministrar as aulas.

Os locais que conseguimos foi através de parcerias e ajuda de algumas pessoas que acreditavam e botavam fé no projeto. Durante esse período, dei algumas aulas particulares (na minha casa mesmo) sem muito luxo, até que um dia o querido DJ Magri, fundador do Curso Greats DJs que é do universo do eletrônico ( totalmente diferente do meu) me chamou para conversarmos porque ele precisava de uma DJ que ministrasse aulas de Open Format.

Seria um curso totalmente novo já que a Great existia, mas era voltado para ensinar música eletrônica. De primeira, acabou me dando aquele frio na barriga porque já fazia muito tempo que eu não dava aulas para um grupo, mas acabei me animando e topei o convite. A sensação de estar ali passando esse conhecimento foi incrível mais uma vez e sem contar que cada curso que termina a gente se sente mãe/madrinha daqueles alunos, porque depois vemos a evolução e trajetória de cada um e bate aquele orgulho hahahahaha…

“…quando a gente entra no limbo da discotecagem, a gente fica querendo se enfiar cada vez mais nesse universo da noite” Bia Marques.

Atualmente você é residente de diversas festas e conquistou um público muito fiel ao seu trabalho. Hoje você também tem alguns eventos como produtora e dona de algumas labels. O que te impulsionou a querer produzir eventos e como é pra você ter se tornado também uma contratante?

A realidade é que, quando a gente entra no limbo da discotecagem, a gente fica querendo se enfiar cada vez mais nesse universo da noite e quando vamos ver já não tem mais como sair hahahahaha… Produzir eventos acabou vindo de uma forma muito natural porque eu gostaria de ouvir determinado ritmo em uma festa que não tocava ou raramente aparecia e foi assim que nasceu o meu xodó, a festa Rompiendo, que produzo com um dos meus melhores amigos, Matheus Gaygher (também produtor da festa Morta), e nosso amor pelo reggaeton e vertentes latinas nos fez entrar nessa maluquice de produzir eventos.

Simplesmente porque gostaríamos de ouvir mais na noite kkkkk… Não vou falar que produzir eventos são flores porque quem produz obviamente sabe que não é, mas é muito gratificante por a mão na massa, produzir e depois ver o resultado. Além da Rompiendo, eu produzi a festa Sururu, que era um evento voltado para o funk e vira e mexe ainda produzo alguns eventos privados. Eu gosto muito da produção, principalmente pela parte de curadoria de DJs. Acho incrível o momento de se pensar em quem poderíamos chamar pra tocar em determinada festa. Eu gosto porque procuro sempre dar oportunidades pras pessoas que estão no início, ou então pra DJs saírem mesmo da própria zona de conforto e experimentar tocar outros estilos para outro público.

Agora que sabemos que Bia Marques é uma mulher multifuncional, ficamos curiosos para saber como você consegue conciliar todas essas suas profissões. Você precisa priorizar uma ou outra? Como você costuma se organizar para que tudo seja sempre sucesso?

No meu caso, acaba que tudo se mescla hahahah… Nos eventos que eu produzo, eu acabo sendo uma das DJs também, então a gente fica um pouco doida, mas no final sempre damos conta. Obviamente que a parte da produção é mais trabalhosa e pesada, então sempre procuro resolver a maior parte das burocracias e trâmites antes do evento acontecer, sempre da forma mais clara e possível pra evitar mais dores de cabeça na hora e focar na parte de discotecagem melhor. Sempre vai ter algum momento de stress, é inevitável por conta da correria, mas essa estratégia tira um pouco o peso das minhas costas pra que eu consiga tocar melhor e até mesmo tentar me divertir hahahaha…

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