Capa Allison Nunes

ENTREVISTA | Allison Nunes: DJ brasileiro com mais de 50 apresentações na Colômbia

O DJ Allison Nunes soma mais de 50 apresentações em gigs na Colômbia, além de se apresentar em diversos países espalhados pelo mundo, como: Espanha, Inglaterra, França, México, Panamá, Equador, Costa Rica, Argentina, Chile e Estados Unidos, consagrando assim a sua carreira internacional com oito anos de história (2013).

Levando o Tribal House como a principal vertente tocada em suas gigs, Allison já tocou em eventos de grandes selos da cena como Papa Party (Cartagena), de Eliad Cohen, Xlsior (Rio de Janeiro), We Party Sandia (H&H Bahia) e Supermartxé (BH e SP). Por 5 anos, Allison foi residente do Grupo Super Festas (SP), e hoje representa os selos Fresh, Bubu (SP), Industry Club Medellín (Colômbia) e Freedom Festival Maspalomas (Espanha).

O brasileiro tem um estilo bem variado, podendo passar pela House, Club, Tribal e Tech, mas sempre com a influência da real House Music. E agora você pode conhecer um pouco melhor da história desse grande artista, praticamente colombiano, onde ele conta um pouco mais de sua trajetória e experiências com os grandes selos que proporcionaram encontros com seus ídolos. Confira agora a entrevista:

“Eu sempre respeitei muito a profissão, a história que há por trás, os grandes DJs que construíram tanto pra que hoje pudéssemos estar tocando na cena.”

Sabemos que você iniciou sua carreira oficialmente em 2013, mas como começou tudo isso? O que te levou a seguir esse amor pela música de forma profissional?

Meu amor pela música eletrônica aflorou mais ou menos aos 13 anos de idade. Até começar a tocar passaram-se 10 anos. Nesse período eu pesquisava muito, vários estilos de música. Quando conheci o Tribal House me apaixonei de cara. O cara que sempre me incentivou e acreditou no meu potencial foi o dono do Super Festas, Maurici Salles. A gente ia nas festas e eu ficava enchendo o saco falando da próxima música, que o DJ já tava virando tal música, meio que narrando o que estava acontecendo, coisas que a grande maioria do público não percebe. Ele sempre falava que eu deveria ser DJ, que poderia dar certo, só dependia de mim. Eu sempre respeitei muito a profissão, a história que há por trás, os grandes DJs que construíram tanto pra que hoje pudéssemos estar tocando na cena. 

O primeiro lugar que toquei profissionalmente além das festas privadas foi o After Euphoria, quando ainda era no Divina Club

Eu levava meu equipamento, e a pistinha onde eu tocava cabia no máximo umas 30 pessoas. A primeira vez que fui tocar deu problema no som, foi bem frustrante. Na segunda vez também houve um problema, me lembro que fui até minha casa e busquei os dois monitores de áudio que tenho, pois a caixa de som tinha dado pau. Ali eu tocava das 6 até 12:00, 1, 2, 3 da tarde… Nessa época eu cheguei a fazer sets de até 10hs de duração, isso foi um grande aprendizado. Quando comecei nem ensaio de fotos eu tinha, eu estava mais preocupado em aprender e criar uma identidade, não tinha $ também pra um bom photoshoot, minhas primeiras fotos foram feitas por um amigo que não é fotógrafo e meu primeiro flyer saiu com uma foto de celular 😂. 

Você já participou de line ups ao lado de grandes nomes como Offer Nissim, Sagi Kariv, Mor Avrahami, Ralphi Rosario, entre outros. Dentre esses line ups tem algum que te marcou mais?

Em Florianópolis eu fechei a Beach Party do carnaval de 2015, toquei no final do set a versão original de “Chá Cha Heels”, da dupla Rosabel. Na festa da noite, Abel abriu o set com o sample dela, que é um saxofone. Tendo apenas 2 anos como DJ na época, isso foi bem marcante pra mim, era algo surreal. Há pouco tempo eu estava no fundo do after carregando meu equipamento pra tocar para 20 pessoas.

Você estreou no Festival Hell & Heaven no ano de 2016 e até hoje esteve presente em todas as edições, conta um pouco pra gente sobre essa parceria que deu super certo. 

Minha primeira vez na Hell foi uma edição extra que rolou em Trancoso, para um pequeno grupo de pessoas. Eu toquei na festa da Xlsior, era pra ser uma Beach Party à noite, porém a chuva não colaborou, e acabou sendo indoor a festa – deu uma quebrada na vibe, achei que não teria outra oportunidade rs. Porém me chamaram para o ano seguinte, onde toquei na We Sandia dentro do festival, uma das principais festas daquele ano, depois veio 2018 onde toquei na Mascarade, que foi a festa mais comentada do festival. Em 2019 abri a Main Party, uma grande responsabilidade. Também representei a H&H no Milkshake Festival, um dos maiores festivais de música eletrônica do mundo. O que o que mantém essa parceria é o respeito e profissionalismo mútuo. Eu amo tocar na Hell!

Luis é meu amigo, já tocamos juntos no Brasil e sempre nos falamos pelas redes sociais ou WhatsApp. Ele remixou a “Kiss U Now”, na época ele falou comigo que queria fazer o remix, eu nem acreditei, fiquei super feliz e lisonjeado. O convite da Las Fieras partiu de mim também, eu que procurei ele pra remixar uma outra faixa, e ele me convidou pra fazer o de Las Fieras. Amo Luís, ele é um dos pioneiros da cena e é fundamental para todos nós. 

Como foi ver “Kiss U Now” ser tão bem recebida na cena nacional e internacional, tornando essa música seu maior sucesso?

Eu ouvi uma das minhas maiores referências tocando “Kiss U Now”, o grande mestre Abel, da dupla americana Rosabel. Teve um sábado que fui na La Leche na The Week e o DJ Tomer Maizner também tocou. Isso representou muito pra mim. 

“Acredito que o que me fez chegar até aqui foi o amor que tenho pela música, dedicação e fé…”

Conseguir um espaço em festas fora do nosso país natal é muito difícil. Como iniciou a sua carreira internacional?

Em 2014 fiz minha primeira Gig Internacional. Eu conheci o produtor Miguel Nieto na The Week e alguns meses depois ele me levou pra tocar no El Mozo (em Bogotá, na Colômbia) e também em Cartagena. Após isso eu voltei a tocar fora somente em 2016. Tudo aconteceu naturalmente, comecei a tocar em festas maiores e os convites foram surgindo aos poucos. É preciso ter paciência e perseverança. 

Além de tocar fora do país, veio o momento tão aguardado de fazer uma tour por vários países. Como foi ficar 9 meses fora do Brasil? E desses países, qual você tem mais vontade de retornar? 

Nesse período foi diferente, não diria melhor nem pior que antes, foram apenas bem diferentes as experiências, principalmente no início, quando as festas estavam começando a acontecer. Era um misto de sensações, ao mesmo tempo eu estava feliz, um pouco preocupado, me sentia estranho também, pois já não tinha aquele ritmo de tocar todos os finais de semana. Teve meses de eu ter apenas 2 ou 3 gigs, mas eu sempre acreditei que tudo voltaria ao normal e graças a Deus falta muito pouco, já estamos na reta final. 

Eu amei tocar no México novamente, a experiência que tive em Puerto Vallarta é algo que quero repetir. 

Totalizando 50 apresentações na Colômbia, o que comprova o sucesso que fez no país. Como você descreveria essa experiência?

Colômbia é minha segunda casa, sou privilegiado em ter o carinho dos colombianos e a oportunidade de trabalhar com tantos profissionais incríveis. Sou muito grato ao público, DJs e produtores por sempre me receberem como família. Eu amo a Colômbia, recomendo a todos que um dia conheçam esse país maravilhoso. 

Tour por vários países somado a 50 apresentações só na Colômbia. O que você acredita que te fez conquistar tal feito?

É maravilhoso tocar fora, são experiências únicas e surpreendentes. Acredito que o que me fez chegar até aqui foi o amor que tenho pela música, dedicação e fé, Deus se encarrega de abrir os caminhos sempre. 

“Um DJ preparado precisa saber o que tocar e a hora de tocar.”

Com um estilo variado, indo do House, Club, Tribal até o Tech, mas sempre com influência da real House Music, o quanto você acredita que essa diversidade acaba influenciando e te ajudando muito a consagrar um grande espaço fora do seu país?

Você me perguntou acima sobre a parceria com a Hell & Heaven, acho que essa versatilidade no som é um grande ponto positivo. Eu sempre abri as festas no festival, e sempre fiz um som adequado para o momento, você não pode ter um set na cabeça e querer tocar ele em todas as ocasiões, isso não vai dar certo. Um DJ preparado precisa saber o que tocar e a hora de tocar. Em países como Estados Unidos, normalmente um DJ abre e o outro fecha, você toca por muitas horas, é necessário construir uma atmosfera, principalmente o DJ que abre a pista.

Com tanta experiência, a gente fica com aquela curiosidade em saber qual foi o momento mais marcante da sua carreira? 

Tocar para 20.000 pessoas em Maspalomas, nas Ilhas Canárias. Esse dia foi sensacional, meu set era de 2hs e pediram pra estender, eu toquei cerca de 4hs, com uma atmosfera inexplicável. Era o Pride, havia uma energia incrível, muito amor e respeito ✊🏽.

“Temos que respeitar e ajudar a combater o preconceito e a violência contra os povos originários.”

É muito comum associar a sua imagem à cultura indígina, principalmente porque você já fez um ensaio em uma tribo. Qual a sua relação com a Amazônia e os índios?

Conheci um pedacinho da Amazônia há pouco tempo, quando fui tocar em Manaus, e aproveitei pra conhecer uma tribo dos povos originários indígenas. Lá aprendi um pouquinho sobre a cultura, seu dia a dia, seus rituais, crenças, o que comem, enfim como qualquer outro ser humano, porém diferentes. Eles são felizes ali, esse é o lugar deles e ninguém tem o direito de tirá-los. Além disso eles são os maiores protetores das nossas florestas, extremamente importantes para o planeta. Temos que respeitar e ajudar a combater o preconceito e a violência contra os povos originários. Esse dia foi bem rápido, gravei um vídeo que às vezes uso como backdrop em minhas apresentações e também fiz algumas fotos. Já me perguntaram se sou indígena, a resposta é não, mas creio que todos nós, brasileiros, de alguma forma temos um pedacinho deles no nosso gene e na nossa história. Eu espero voltar um dia e poder passar mais tempo na Amazônia, e me aprofundar mais na cultura indígena.

Estamos chegando no fim e queremos saber quais são seus próximos planos para sua carreira? Como você se vê com esse novo formato da nossa cena pós pandemia?

Focar na produção, tem muita novidade vindo por aí. A cena mudou, porém a boa música sempre terá espaço, esse é o meu foco. 

Para finalizar, deixe um recado a todos os fãs de seu trabalho e aos leitores da revista Colors DJ Magazine.

Gratidão! Obrigado a todos que me acompanham, que curtem as músicas, sets, fotos, enfim seja apenas um like, você já é especial e faz parte dessa jornada. Espero vê-los em dezembro no meu retorno ao Brasil, não vejo a hora de rever todos vocês.

Texto em colaboração com Felipe Ribeiro.

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Felipe Ribeiro

Felipe Ribeiro

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